Imprimir

Medium

Fundo
Fernando Pessoa
Cota
BNP/E3, 14-6 – 68-69
Imagem
[Sobre o romance policial]
PDF
Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
[Sobre o romance policial]
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[BNP/E3, 146 – 68-69]

 

The great merit of Sir Arthur Conan Doyle, in the tales of Sherlock Holmes, is this limitation of possibility – this arrival at true individuality – though but external individuality.

_______

A very erroneous idea has great acceptation – namely that a detective story is but a literary composition of an inferior kind. Critics, especially those who occupy themselves with poetic and philosophical works, are very unanimous in decrying this kind of tale. They look upon it as something needing no imagination and little, if any, logic. But they are

 

[68v]

 

in this mistaken – that they have never attempted to analyse the stories I treat of, that they never have considered what a detective story really is, and what faculties are needed for its writing. Some of these critics may be excused in that, being too much accustomed to the work, in this line of some gentlemen who will be nameless {…} and numerous all other gentlemen of like literary value, they have very correctly inferred, from what they know, that the detective story needs no imagin-

 

[69r]

 

ation, that it needs no logic – that, indeed, anyone can write it, if only he have no respect for whatever intellect he possess.

_______

On the other hand, the popular idea lies in the other extreme. The crowd judges from the same premises and it draws an opposite conclusion. As the imagination of the authors of whom I have spoken is not superior to the popular imagination; as their logic is not more acute than he logic of a carpenter or a baker (supposing the carpenter and the baker to have no more intellect than may supposed),

 

[69v]

 

the common people consider those authors to have reached the limit of human sharpness.

The crowd, however, errs through mere stupidity; the critics err, because they have not considered.

_______

Dickens represents the popular imagination.

 

 

 

 

[BNP/E3, 146 – 68-69]

 

O grande mérito de Sir Arthur Conan Doyle, nos contos de Sherlock Holmes, é essa limitação de possibilidade – esse atingir da verdadeira individualidade – embora apenas uma de individualidade externa.

_______

Uma ideia muito errónea tem grande aceitação – a saber, que uma história policial é apenas uma composição literária de tipo inferior. Os críticos, especialmente aqueles que se ocupam de obras poéticas e filosóficas, são muito unânimes em condenar esse tipo de conto. Eles vêem isso como algo que não precisa de imaginação e pouca ou nenhuma lógica. Mas nisto eles estão 

 

[68v]

 

enganados – em que eles nunca tentaram analisar as histórias de que trato, que nunca consideraram o que realmente é uma história policial e quais faculdades são necessárias para a sua escrita. Alguns desses críticos podem ser desculpados por estarem muito acostumados com a obra, nesta linha de alguns cavalheiros que não têm nome {…} e todos os outros numerosos cavalheiros de igual valor literário, eles inferiram muito correctamente, do que eles sabem, que a história policial não precisa de imagina- 

 

[69r]

 

ção, que não precisa de lógica – que, de facto, qualquer um pode escrevê-la, desde que não tenha respeito por qualquer intelecto que possua.

_______

Por outro lado, a ideia popular reside no outro extremo. A multidão julga a partir das mesmas premissas e tira uma conclusão oposta. Como a imaginação dos autores de quem falei não é superior à imaginação popular; como a sua lógica não é mais aguda do que a lógica de um carpinteiro ou um padeiro (supondo que o carpinteiro e o padeiro não tenham mais intelecto do que se supõe), 

 

[69v]

 

as pessoas comuns consideram que esses autores atingiram o limite da agudeza humana.

A multidão, porém, erra por mera estupidez; os críticos erram, porque não consideraram.

_______

Dickens representa a imaginação popular.

 

Notas de edição
Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/5240

Classificação

Categoria
Subcategoria

Dados Físicos

Descrição Material
Dimensões
Legendas

Dados de produção

Data
Notas à data
Datas relacionadas
Dedicatário
Destinatário
Idioma
Inglês

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Estado de conservação
Proprietário
Historial

Palavras chave

Locais
Palavras chave
Nomes relacionados

Documentação Associada

Bibliografia
Publicações
Fernando Pessoa, Histórias de um Raciocinador, edição de Ana Maria Freitas, Lisboa, Assírio & Alvim, 2012, pp. 249-250.
Exposições
Itens relacionados
Bloco de notas