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Fundo
Fernando Pessoa
Cota
BNP-E3, 19 - 30
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[Sobre a arte aristocrática]
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Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
[Sobre a arte aristocrática]
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[19 – 30]

 

Que essa arte não é feita para o povo? Naturalmente que o não é – nem ela nem nenhuma arte verdadeira. Toda a arte que fica é feita para as aristocracias, para os escoes, que é o que fica na história das sociedades, porque o povo passa, e o seu mister é passar.

 

A nossa arte é supremamente aristocrática, ainda, porque uma arte aristocrática se torna necessária neste Outono da civilização europeia, em que a democracia avança a tal ponto que, para de qualquer maneira reagir, nos incumbe, a nós artistas, pormos entre a elite e o povo aquela barreira que ele, o povo, nunca poderá transpor – a barreira do requinte emotivo, e da ideação transcendental, da sensação apurada até à subtileza, do carier to the general das nossas pessoas do vulgo[1].

 

A nossa civilização corre o risco de ficar submersa como a Grécia[2] sob a extensão da democracia, de cair inteiramente nas mãos dos escravos, ou então de ficar como Roma, não nas mãos de imperadores filhos do acaso e da decadência, mas de grupos financeiros sem pátria, sem lar na inteligência, sem escrúpulos intelectuais e sem causa em Deus. O único antídoto para isto é uma lenta aristocratização. É pela arte que, supremamente, essa aristocratização pode ser feita.

Raiava, já antes da guerra, no horizonte o triste sinal da plebeização das elites. Bailados, espectáculos, e outros desvios semelhantes da arte superior, iam tomando vulto. É preciso reagir contra esta corrente.

 

Depois da guerra, é de crer que aumente o espírito patriótico. Nada mais ignóbil. Reporto-me às palavras sublimes de Goethe quando falou de quão pouco o sentimento patriótico sobe até às paragens de ar puro e raro onde vivem os Superiores. Permita-me que lhe recorde aquele passo das conversações com Eckermann em que o Mestre de Weimar registou essa ideia.

 

 

[1] do vulgo /anormais\

[2] Grécia /(Atenas)\

Notas de edição
Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/2472

Classificação

Categoria
Literatura
Subcategoria

Dados Físicos

Descrição Material
Dimensões
Legendas

Dados de produção

Data
Notas à data
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Dedicatário
Destinatário
Idioma
Português

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Estado de conservação
Proprietário
Historial

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Documentação Associada

Bibliografia
Publicações
Fernando Pessoa, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho, Lisboa, Edições Ática, 1966, pp. 161-162.
Exposições
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