Identificação
[BNP/E3, 14A – 65]
Gomes Leal.
Artigo sobre Almada Negreiros.
Assim como a poesia de agressão tem os três géneros – o epigrama, a sátira e o poema satírico, assim {…}
Será por poliaptidão do artista, por incerteza em encontrar-se, ou por humor assemelhável imitação ou adaptação a vários géneros? Creio que de todos estes três elementos se possa {…}
Há qualquer coisa de procurar, há também qualquer coisa de {…} – mas há também visivelmente personalidade e originalidade atrás dessas tentativas.
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Dos três motivos de sátira – o ódio, a censura e o mero riso, Almada Negreiros procura apenas o terceiro. É uma infelicidade.
O caricaturista que nos desse, na sua arte, o que Swift nos deu na sua – o desdém, o ódio feroz à humanidade! O caricaturista que escarnecesse do que em nós temos por mais sagrado, por mais {…} não por um egoísmo frio de {…}, mas por um entranhado e negro desprezo da humanidade, esse, sim, que seria o caricaturista supremo, sabendo ele, é claro, tornar o seu ódio, troça e riso {…}
[65v]
Mas se se pode desejar que um artista assim apareça, mal se pode desejar a um artista que assim seja – porque só o suficientemente profundo e conciso envenenaria para o ódio a alma {…}
Fantasia abundante – tem-na Almada Negreiros. – Terá imaginação? Tem um esboço dela. Se esse esboço é o estudo constatável e fixo dela, ou o estudo † apenas – pertence ao futuro decidi-lo.
O que tudo vem a dar em que se constate que Almada Negreiros é já mais do que um caricaturista inteligente, na conta do talento. Do génio, não o é, di-lo-emos. Seria preciso mais intuição de artista, mas sentimento estético directo das artes, mais do que eu tenho para destrinçar se esse homem já existe.