Identificação
[BNP/E3, 144 – 66-69]
Rescrevamos a Ilíada na forma de uma crónica medieval, e será uma boa crónica medieval – mais nada. Dispamos o Paraíso Perdido da energia rítmica de Milton, e será uma narrativa de frustrar teólogos, tedienta e frustre.
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A preocupação do ritmo dificulta-nos pensar, na substância da mesma ideação, e o que é para ser pensado ritmicamente não é pensado como se fora só pensado {…}
[67r]
São três os sentidos que colaboram na formação das artes – as palavras, das artes supremas; a vista, de onde se forma a pintura, a escultura e a arquitectura; e o ouvido de onde se forma a música; e {…}
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Quando se traduz um poema, traduz-se a ideia e o ritmo; a charada está nas partes internas das frases, das imagens até. Por isso é intraduzível nas línguas modernas a poesia quantitativa dos gregos e dos romanos.
[68r]
A arte verbal de dizer as coisas de maneira que o ritmo influa no sentido chama-se poesia.
Todos conhecem o “pensamento traduzido pelo som”, e com o ritmo dá-se o mesmo.
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O que é pensado para se dizer, ou porque se está dizendo, em poesia não é pensado do mesmo modo que se onde está poesia estivesse prosa. O ritmo dentro do mesmo conjunto tem outra marcha ou direcção.
[69r]
Pegue nos dois números de Orpheu. Leia o que lá está. V. tem ali personalidades distintas; são confundidos o Sá-Carneiro, o Alfredo Guisado, o Cortes Rodrigues, o Almada, o Raul Leal, {…}
Lima-nos, à parte a amizade pontual, o comum afastamento dos métodos correctos da literatura. Mas cada um se afasta por seu carácter, cada um era o que era.
[69v]
Um mesmo movimento tem separados {…}