Vespertino fundado a 7 de Abril de 1921 por Joaquim Manso, que o dirige até morrer em 1956. Sucede-lhe Norberto Lopes (1956-1967), antigo colaborador do jornal. O Diário de Lisboa publica-se pela última vez a 30 de Novembro de 1990, sob a direcção de Mário Mesquita.

O Diário de Lisboa distingue-se, no quadro da Imprensa portuguesa da altura, pela independência das suas opiniões e pela feição e qualidade literárias das suas páginas, abertas aos escritores e artistas modernistas. Graças ao próprio Joaquim Manso, e a jornalistas como Victor Falcão, Artur Portela, e António Ferro, defensores de uma certa modernidade, o Diário de Lisboa torna-se «um lugar seguro e ímpar de divulgação e defesa dos novos da arte e das suas polémicas» (Rodrigues, 1993: IX). A arte moderna nacional é largamente abordada: através dos nomes de Almada Negreiros, Eduardo Viana, Milly Possoz, Albert Jourdain, Jorge Barradas, Mário Eloy, Sarah Affonso ou Diogo de Macedo; e de manifestações como a Exposição dos Cinco Independentes (1923), os Salões de Outono (de 1925 e 1926), ou o I Salão dos Independentes (1930). O Diário de Lisboa promove a Contemporânea (de José Pacheco); a Athena (de Fernando Pessoa); o Teatro Novo (de António Ferro e José Pacheco); a decoração da Brasileira com pinturas de Almada Negreiros, Eduardo Viana, António Soares, Jorge Barradas, Stuart Carvalhais, José Pacheco e Bernardo Marques (1925); e defende a entrada dos «novos» sócios na Sociedade Nacional de Belas Artes (empreendida por Pacheco). Próximo dos artistas jovens, o Diário de Lisboa constitui, no âmbito da imprensa periódica portuguesa de vinte, um meio de difusão privilegiado de correntes e figuras ligadas à modernidade internacional, e de Espanha em particular. Além de Ramón Gómez de la Serna, escritor cuja presença é constante nas páginas do jornal, citemos as entrevistas concedidas ao Diário de Lisboa pelo ultraísta espanhol Guilhermo de Torre («Intercambio. Fala ao Diário de Lisboa um ultraísta espanhol», 29/5/24) e pelo modernista brasileiro Oswald de Andrade («Ideias Novas. A arte e a literatura do Brasil Moderno. Apreciação de Oswald de Andrade», 19/12/23).

Contando com a colaboração gráfica de Jorge Barradas, Bernardo Marques, Stuart Carvalhais, António Soares e Almada Negreiros, presença constante desde o primeiro número do jornal, O Diário de Lisboa apresenta colaboração literária, entre outros, de Alfredo Pedro Guisado, Américo Durão, António Ferro, António Patrício, Aquilino Ribeiro, Fernanda de Castro, Vitorino Nemésio, Almada Negreiros e Fernando Pessoa («Luiz de Camões glorificado pelos poetas da nossa terra», 4/2/24; e «A revista Athena e o que nos afirmou Fernando Pessoa», 3/11/24).

A 30 de Novembro de 1934 inicia a publicação de um «Suplemento Literário», dirigido pelo próprio Joaquim Manso, que se prolonga por toda a década de 30 e propõe a «divulgação e apreciação do facto literário e artístico». O «Suplemento» conta com João Gaspar Simões como crítico literário, com Almada Negreiros, Amarelhe e Francisco Valença como ilustradores, e com a colaboração de Almada Negreiros, Adolfo Casais Monteiro, António Botto, Aquilino Ribeiro, António Patrício, Diogo de Macedo, José Pacheco, Judith Teixeira, Mário Beirão, Vitorino Nemésio, etc. De e sobre Fernando Pessoa, o «Suplemento Literário» publica: «Dez minutos com Fernando Pessoa» e «Do livro Mensagem de Fernando Pessoa transcrevem-se 3 poemas com 3 ilustrações inéditas de Almada», (14/12/34); «Natal», com um desenho de Almada Negreiros (28/12/34); «A Romaria de Vasco Reis», com uma ilustração de Almada Negreiros (4/1/35); «Associações Secretas» (4/2/35); «Como Fernando Pessoa vê António Botto» (1/3/35); «A Mensagem do Desejado», artigo de João de Castro Osório (12/4/35); «Poesias dum prosador», crítica sobre o livro Amor de Outono de Cunha Dias (11/11/35); e, após a morte de Pessoa, uma evocação anónima (2/12/35) e um «In Memoriam» assinado por Gaspar Simões e Almada Negreiros, acompanhado de um retrato do poeta por Almada (6/12/35).

 

NEGREIROS, José de Almada, Obras Completas, vol. III (Artigos no «Diário de Lisboa»), Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1988; RODRIGUES, António, Desenhos de Almada no «Diário de Lisboa», Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, 1993; RODRIGUES, Ernesto, «Diário de Lisboa», in: Biblos – Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa, vol. 2, Lisboa, Verbo, 1997, pp. 108-109.

 

 

Sara Afonso Ferreira