(1884-1969)

Médico natural de Olhão, foi também professor de liceu e director da Escola Primária Superior de Faro. Distinguiu-se pela forma como procurou dinamizar culturalmente a sua terra, promovendo e protagonizando conferências de carácter literário e musical, e pelo ecletismo dos seus interesses, que iam da Filosofia, à Música, passando pela Literatura e pela História. No âmbito da investigação musicológica, deve-se-lhe um importante contributo na identificação da música das Cantigas de Santa Maria, de Afonso X, em 1934. Pertenceu ao grupo da Renascença Portuguesa e colaborou em diversas revistas (Seara Nova, Brotéria, Ocidente, Colóquio) e em obras colectivas, como a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira e Dicionário da História de Portugal. Escreveu A Figura e a Obra do Infante D. Henrique (1960) e compôs várias peças para piano e canto, para além de um bailado, intitulado Cristóvão Colombo. Fernandes Lopes e Fernando Pessoa conheceram-se na Brasileira do Chiado e conviveram, pelo menos por volta de 1919. O médico lembra, em 1942, nas páginas da Seara Nova, uma longa conversa, cujo tema central era a filosofia de Bergson, com o poeta, em deambulação até de madrugada pelas ruas de Lisboa. Este mesmo encontro é referido por Pessoa numa carta de 20-4-1919, propondo a sua colaboração numa revista portuguesa destinada ao estrangeiro, a ser publicada alternadamente em francês e inglês. A orientação da revista, projectada por «um grupo intelectual» de que Pessoa se diz secretário, deveria ser a do repúdio pelos tradicionalismos vários, como o católico e o anti-industrialista, e pelo «servilismo para com o estrangeiro». Pessoa desenvolve o assunto numa outra carta, seis dias depois, salientando a necessidade de criação de uma verdadeira cultura portuguesa. Uma nova carta, em 1 de Junho, dá conta do provável falhanço do projecto, substituído talvez pelo do jornal Acção.

 

 

Manuela Parreira da Silva