O suposto espírito de Henry More (1614-1687) era o «comunicador» cujo nome figura com mais frequência nas dezenas de folhas de escrita automática deixadas por Fernando Pessoa (ver Mediunidade). Professor, poeta e filósofo, o Dr. More era uma figura de proa entre os Platónicos de Cambridge, um grupo de pensadores assim chamados por fundamentarem o seu conceito místico da alma nas ideias de Platão — em oposição ao determinismo calvinista, por um lado, e à filosofia mecanicista de Thomas Hobbes (1588-1679), por outro. Durante a sua vida terrena, o «mestre» espiritual de Pessoa interessou-se pela Cabala e era adepto da Rosa-Cruz, o que explica a sigla «Frat. R†C» que costumava acompanhar a sua assinatura nas comunicações «recebidas» e transcritas pelo suposto discípulo. More, em vida, defendeu que o tempo e o espaço eram os órgãos dos sentidos de Deus e postulou a existência de uma quarta dimensão por onde se estende o reino espiritual. Esta última noção será eventualmente equiparável ao reino «astral», coexistente com o reino do mundo, tal com foi retratado em alguns escritos automáticos de Pessoa (ver Pessoa, Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, Lisboa, Assírio & Alvim, 2003, pp. 262-265, 302-307).
Richard Zenith