(1849 – 1923)

Numa passagem célebre de uma carta de Pessoa a José Osório de Oliveira, de 1932, lê-se: «No que posso chamar a minha terceira adolescencia, passada aqui em Lisboa, vivi na atmosphera dos philosophos gregos e alemães, assim como na dos decadentes franceses, cuja acção me foi subitamente varrida do espirito pela gymnastica sueca e pela leitura da “Dégénérescence”, de Nordau». De facto, em 1907, dois anos depois do regresso da África do Sul, Pessoa visitou o consultório de Luís Furtado Coelho, autor de A Gymnastica Sueca (1907), e leu a Dégénérescence (1894), de Max Nordau, como testemunha um pequeno diário desse ano:

 

Reading, etc.:

May 28: Max Nordau: “Dégénérescence” (trad. A. Dietrich). I. 120 pages.

May 29th: Max Nordau “Deg.” I. 255 p.

Wrote half one sonnet and one song.

June 8: Nordau: Vol II up to p. 100. Wrote 1 sonnet.

(Escritos sobre Génio e Loucura, p. 624)

 

Outras obras de Nordau encontram-se na biblioteca pessoal de Fernando Pessoa, mas esta – de que existem longas notas de leitura, com curtas intervenções de Alexander Search – terá sido a mais marcante. Tanto, que Pessoa projectou uma crítica (Critique of Nordau’s understanding of Degeneration), um estudo (Study on Degeneration) e até um apêndice (“Les Insignifiants – appendix à la ‘Dégénérescence’ de Max Nordau”) à obra do autor húngaro, para além de um ensaio (Essay on Degeneration), que talvez englobasse os primeiros dois projectos.

Pessoa parece ter perdido rapidamente o fervor inicial pela Dégénérescence e para esta mudança terá contribuído a leitura de um livro que sublinhou e anotou abundantemente: Regeneration. A Reply to Max Nordau, Westminster, Archibald Constable, 1895 (cf. Escritos sobre Génio e Loucura, pp. 702-708). Dessa mudança são testemunhouma série de Notas ao livro de Max Nordau, datáveis de cerca de 1909 (ibidem, pp. 380-381), e algumas declarações posteriores, bastante críticas e rotundas, como a seguinte – suscitada pela recepção da revista Orpheu: «Algumas obras, como a de Nordau e a de Lombroso, pertencem ao charlatanismo scientifico» (ibidem, p. 393).

«No sé si Max Nordau quedará en la historia de la literatura universal o, menos ampliamente, en la historia de la literatura alemana», escreveu Borges, sem sequer inquirir pelo seu lugar na historia da psiquiatria («Max Nordau», in Textos Recobrados, vol. II, p. 275); a verdade é que as suas obras – incluindo a Dégénérescence – perderam vertiginosamente todo o seu valor científico, mas, no entanto, hoje se lêem melhor que muitas nosografias. Talvez por isso Pessoa se refere, a certa altura, «á outrora famosa e sempre legivel “Degenerescencia”, de Max Nordau» (Escritos sobre Génio e Loucura, p. 144).

 

Jerónimo Pizarro