(1608-1674)

Em dois textos de 1916, uma carta assinada por Pessoa e um prefácio assinado por Álvaro de Campos, propõe-se a um editor inglês uma antologia de poetas sensacionistas portugueses (Páginas Íntimas, 126-156). Ora, Milton é aí duas vezes citado como exemplo de poeta com um poder de construção máximo, que serve de referência para esse mesmo esforço de desenvolvimento ordenado e estruturado por parte de Álvaro de Campos, sobretudo nas grandes odes sensacionistas. Milton é, aos seus olhos, o renascentista que toca a absoluta perfeição clássica, o génio erudito com alma grega. E se, tal como escreve em carta de 1932, «Em minha segunda adolescência dominaram meu espírito Shakespeare e Milton» (Correspondência, II, 279), e se conhece a importância que Shakespeare ocupa no seu panteão privado, chega a ter um projecto de livro, umas vezes atribuído a Reis, outras a Mora, outras a Pessoa, O Regresso dos Deuses – em que um capítulo teria o eloquente título «Milton Maior que Shakespeare» (Ricardo Reis, Prosa, 199-203).

 

Fernando Cabral Martins