Revista publicada em Coimbra em séries sucessivas a partir de 1914 e até 1938, sendo a primeira especialmente marcante, de 1914 a 1916, dirigida por Alberto de Monsaraz e com o subtítulo de Revista de Filosofia Política. Não se dedicando a temas especificamente literários, mas pensando a partir de nomes da cultura romântica e sobretudo de uma certa Geração de 70, nacionalista e anti-semita (nos primeiros três números, António Sardinha incensa o Teófilo Braga da História da Literatura Portuguesa como «Mestre da Contra-Revolução»), configura a ideologia do Integralismo Lusitano, de que é o órgão oficial. Trata muitas vezes temas de política e de economia. A defesa da monarquia no novo contexto da revolução republicana, ou da Igreja Católica, ou a herança do próprio nacionalismo militante não são talvez os elementos decisivos deste movimento, mas sim o modo pelo qual quer realizar-se: o regresso a uma «luz que se apagou, vai para quatrocentos anos». Isto é, e continuando a citar o n.º 1: «A Tradição rompeu-se violentamente: há quatro séculos perdeu-nos um desvario de imperialismo opulento, há um século que se trata uma doença com falso diagnóstico».

Assim, a tendência para a ideia de um absolutismo régio de antes da Restauração, combinada com a proposta de um corporativismo a que o Estado Novo havia de regressar, resultam num projecto «integralista» de realizar a mesma tarefa de ressurgimento e renascença em que outros contemporâneos se empenham. Mas num sentido radicalmente «reaccionário», isto é, pelo restabelecimento de uma «tradição extreme de modernismos», como escreve Fidelino de Figueiredo (Estudos de Literatura, 1921).

No artigo «Da Poesia das Cinzas à Poesia das Brasas», Domingos de Gusmão Araújo, que será o secretário da 2.ª série, distancia-se do de modo explícito do Saudosismo, o que designa por «poesia das cinzas», contrapropondo uma poesia aquecida na «brasa eterna da Pátria», no «Desejo» e na «Esperança».

A partir da 2.ª série, de 1922 a 1923, com novo subtítulo, Revista de Cultura Nacionalista, é dirigida por António Sardinha, nome que nas suas páginas se torna presença contante, abordando múltiplos temas. Colaboram Rebello de Bettencourt, Pedro Teotónio Pereira, Pequito Rebelo, entre outros, e o mesmo Domingos de Gusmão Araújo há-de assinar no n.º 4 um violento ataque a Leonardo Coimbra. Diga-se, de resto, que o nacionalismo é um aspecto em que se aproxima do Saudosismo ou até do Modernismo (basta lembrarmos a importância da ideia patriótica em Pessoa, ou a reivindicação tonitruante de nacionalismo em Santa Rita Pintor), e que corresponde, portanto, ao «espírito do tempo». Até foi possível a proposta de uma «Grande Lusitânia» que agrupasse Portugal e o Brasil (termos de um inquérito da Atlântida em 1917). Ainda, num número dedicado ao Brasil na segunda série da Nação Portuguesa, pôde Afonso Lopes Vieira encomendar-se mesmo a um «Quinto Império» que «se há-de constituir no mundo, com a Espanha nossa irmã e a América das duas linhagens da Península madre, a Aliança fraternal e gigantesca».

Na 3.ª série, de 1924 a 1926, a costela de um Futurismo sem arte nem entusiasmo insinua-se na nota de apresentação: «Sentimos um infinito desprezo pelos desgraçados que nos saem ao caminho, sem audácia nem inteligência». E pode ter uma exemplificação eloquente no artigo que Castelo Branco Chaves escreve sobre António Nobre, em que considera que faz a «ladainha» e o «responso» de um «Portugal morto», e encontra na sua poesia «uma lamúria constante, uma fraqueza deprimente» que o reduz a uma «perspectiva mesquinha». E tudo isto porque o seu nacionalismo «não tem um pensamento que ilumine, uma doutrina que guie, um processo que esclareça».

Uma referência à 5.ª série, de 1928 e 1929: é secretariada por Marcelo Caetano.

 

 

 

Fernando Cabral Martins