Revista publicada em Lisboa, número único, em Fevereiro de 1914. Dirigida por Carvalho Mourão, figurando José Coelho Pacheco como redactor. É o lugar por excelência da divulgação do Paulismo, sem que esse nome apareça uma única vez, sobretudo em virtude das duas colaborações de Sá-Carneiro e de Pessoa. Nela colaboram ainda Alfredo Guisado, com um soneto Asas Quebradas de sonoridade simbolista mas também atravessado pelo excesso que caracteriza o Paulismo, os próprios Carvalho Mourão e Coelho Pacheco, um inesperado Júlio Dantas com um soneto de boa factura, e ainda dois ou três textos de circunstância. A qualidade geral é muito acima da média das revistas literárias da época, e parece banhar numa atmosfera de novidade formal.

Sá-Carneiro publica Além (fragmento), que apresenta como a dupla tradução de um texto em russo que o seu autor Petrus Ivanovitch Zagoriansky previamente traduzira para francês, e que faz acompanhar de uma nota final. Na realidade, este processo serve para sublinhar a sua dimensão de manifesto (pela primeira vez sugerida por Jorge de Sena) de «uma Arte inteiramente nova», que a nota final define assim: «De resto, mais do que no sentido, a Arte do russo residia no timbre cromático ou aromal do som de cada frase e no movimento peculiar a cada “circunstância” dos seus poemas. Embora a sua grande beleza, a minha interpretação está – bem entendido – muitíssimo longe da maravilha em sugestão rítmica que era o texto russo de Zagoriansky». De notar que este é o primeiro texto em data do Paulismo, e que corresponde à mutação de escrita que ocorre em Sá-Carneiro no início de 1913, tal como se documenta pelas cartas a Pessoa dessa altura.

Pessoa publica Impressões do Crepúsculo, um díptico que inclui «Ó sino da minha aldeia», quatro quadras de estilo tradicional sobre o tema do tempo e da saudade, e «Pauis de roçarem ânsias […]». Este último fora um poema com circulação autónoma de título Pauis, e é da sua primeira palavra que o Paulismo forma o nome, o que é indicativo da qualidade do poema como um verdadeiro manifesto poético.

 

 

Fernando Cabral Martins