Pessoa publica o seu primeiro ensaio crítico em Dezembro de 1904 na revista do liceu, The Durban High School Magazine. É um artigo intitulado «Macaulay», sobre o autor com esse nome de uma History of England, em que apresenta de modo genérico a sua vida e obra. Comenta sobretudo os aspectos estilísticos e retóricos da sua escrita, fazendo a análise dos efeitos produzidos pela típica construção das frases e pelos modos da harmonia estrutural perseguida. Essa publicação na revista indica um reconhecimento do ensaio de um aluno de 16 anos, cuja directa motivação é, de resto, escolar: Pessoa frequenta nesse ano a Form VI no liceu de Durban, que é considerada como equivalente ao primeiro ano da universidade.

Característica marcante deste ensaio é o facto de colocar Macaulay em contraposição quase constante com Carlyle, outro escocês seu contemporâneo e também autor central para a literatura vitoriana. Nesse processo comparativo, é sempre Carlyle quem leva a melhor, considerando-o Pessoa, com entusiasmo, um génio. De certo modo, este ensaio sobre Macaulay é, de facto, um ensaio oblíquo sobre Carlyle.

Tema importante é o da concepção de História que Pessoa atribui a ambos, Macaulay e Carlyle, e que será também a sua em múltiplos textos, desde a sociologia política à teoria poética. Essa concepção assenta na ideia de que os factos históricos se enraizam «in the unseen currents of national sentiment» [«nas correntes ocultas do sentimento nacional»], e que existe, pois, um inconsciente colectivo com a qualidade do politicamente eficaz.

 

 

Bibl.: Maria Da Encarnação Monteiro, Incidências Inglesas na Poesia de Fernando Pessoa, Coimbra, 1956.

 

 

Fernando Cabral Martins