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Victor Hugo
A atitude dos maiores críticos com respeito a Victor Hugo é facilmente explicável. Sentem instintivamente que ali não está o lirismo supremo, mas sentem inquietamente que o poder imaginativo é enorme. Deficientes em análise voam e revoam em torno ao enigma sem o compreenderem bem.
Confesse-se: realmente causa certa inveja ver a extraordinária exuberância imaginativa de um poeta que, ainda assim, não é um imaginativo supremo; causa certa inveja a facilidade dentro da inconsciência com que tudo aquilo é tumultuosamente dito. Ou desejamos que o que ele diz seja mais estúpido, ou então que ele tenha mais consciência e compreensão das sublimidades que diz, ou, melhor que se acham expressas no espírito dele. O caso é porém que, se fosse sem valor o que ele escreveu, o problema cessava; e se ele tivesse consciência absoluta da grandeza do que diz, isto é, se analisasse os seus pensamentos, não seria capaz de os ter daquele modo, expressos daquela maneira e com aquela exuberância. A grandeza e a pequenez do homem são as duas faces da sua natureza. É ocioso tentar conceber no reverso de uma moeda de tostão o reverso de um vintém ou de uma libra.