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Fundo
Fernando Pessoa
Cota
BNP-E3, 19 - 81
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Impermanence
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Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
Impermanence
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[19 – 81]

 

Impermanence

 

Our century[1] is not that of long poems, for the sense of proportion and construction are the qualities that we have not got. Our age is the age of small poems, of short lyrics, of sonnets and of songs. Our survival[2] to succeeding ages will most probably be in the form of Song-Books, as those where the troubadours of Provence and the courtly poets of King Denis’ reign[3] are kept for |survival|. All that will remain of several ages of our poetry will be (the great names like Dante or Milton excepted) for each nation, a collection of poems like the Greek Anthology, finally more an embodiment of a general spirit than the addition of many poems of many individuals – to all intents, save the exact one {…}, an anonymous publication.

Even poems like Adonais will perhaps not survive, because dreams do not. Prometheus Unbound shall fade, and in the English Anthology of the future only one or two lyrics from it will speak of Shelley to eternity.

Time deals hastily with those who deal hastily with it. Saturn eats his own children, not only in the sense that he himself consumes what he produces, but also in that he consumes those who are so far his children as to keep their eyes on their age and who work not for an abstract timelessness, the |Jovian age| of the soul, or the changeless place of that immortal Beauty whom Plato loved.

 

[81v]

 

There is a note of immortality, a music of permanence subtly woven into the substance of some rhythms and the melody of some poems. There is a rhythm of another speech in which the careful ear can detect the note of a god’s confidence in his godship.

This note is in the sonnets of Milton, in Lycidas; it is not in Shakespeare’s Sonnets, even when they speak of something like it. There is a poise, a calm, a freedom which do not inhabit the fever of inspiration. It is sibyls and prophetesses who are inspired; not the Gods themselves.

The Moïse of Vigny, the Booz Endormi of Hugo have this note. Of all French poets Vigny is ever close to it, though he attained it not very frequently.

 

Succeeding times shall have too many poets of ours from which to choose. Too much cannot remain. “Posterity”, Faguet said, “likes only concise writers;” true, and a concise number of writers also. Too much is too little.

It is a child’s proverb that you cannot eat your cake and have it too; and a biblical one that you cannot serve both God and Mammon. You cannot serve your age and all ages in the same time, nor write for gods and for men the same poem.

 

 

[19 – 81]

 

Impermanência

 

O nosso século não é o de poemas longos, pois o sentido de proporção e construção são qualidades que não temos. A nossa época é a época de pequenos poemas, de líricas breves, de sonetos e de canções. A nossa sobrevivência para as épocas subsequentes será muito provavelmente na forma de Cancioneiros, como aqueles em que os trovadores da Provença e os poetas cortesão do reinado do D. Dinis se mantêm em |sobrevivência|. Tudo o que restará de diversas épocas da nossa poesia será (exceptuando os grandes nomes como Dante ou Milton), para cada nação, uma colectânea de poemas como a Antologia Grega, por fim, mais uma incorporação de um espírito geral do que a soma de muitos poemas de muitos indivíduos – para todos os efeitos, salvo aquele específico {…}, uma publicação anónima.

Mesmo poemas como Adonais talvez não sobreviverão, porque os sonhos não sobrevivem. Prometheus Unbound desaparecerá e na Antologia inglesa do futuro apenas uma ou duas líricas dele falarão de Shelley para a eternidade.

O tempo lida apressadamente com aqueles que lidam apressadamente com ele. Saturno come os seus próprios filhos, não só no sentido em que ele próprio consome o que produz, mas também em que consome aqueles que são seus filhos na medida em que põem os seus olhos na sua época e não trabalham para uma intemporalidade abstracta, a época de Júpiter da alma, ou o lugar inalterável dessa beleza imortal que Platão amava.

 

[81v]

 

Existe uma nota de imortalidade, uma música de permanência subtilmente tecida na substância de alguns ritmos e na melodia de alguns poemas. Existe um ritmo de outro discurso em que o cuidadoso ouvinte pode detectar a nota de uma confidência de deus na sua divindade.

Esta nota está nos sonetos de Milton, em Lícidas; não está nos Sonetos de Shakespeare, mesmo quando eles falam de algo assim. Existe um equilíbrio, uma calma, uma liberdade que não habita a febre da inspiração. As sibilas e profetisas é que são inspiradas; não os próprios Deuses.

O Moïse de Vigny, o Booz Endormi de Hugo têm esta nota. De todos os poetas Vigny encontra-se sempre próximo dela, embora não a tenha atingido frequentemente.

 

As épocas seguintes terão demasiados dos nossos poetas de entre os quais poderão escolher. Não poderá permanecer demasiado. “A posteridade”, disse Faguet, “ama apenas os escritores concisos;” é verdade, e apenas um número conciso de escritores. Demasiado é muito pouco.

É um provérbio infantil que não podemos ficar com o bolo e comê-lo também; e um provérbio bíblico que não podemos servir simultaneamente a Deus e a Mamon. Não podemos servir a nossa época e todas as épocas ao mesmo tempo, nem escrever o mesmo poema para deuses e para homens.

 

 

[1] century /age\

[2] survival /permanent legacy\

[3] reign /Portugal\

Notas de edição
Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/2757

Classificação

Categoria
Literatura
Subcategoria

Dados Físicos

Descrição Material
Dimensões
Legendas

Dados de produção

Data
Notas à data
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Dedicatário
Destinatário
Idioma
Inglês

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Estado de conservação
Entidade detentora
Historial

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Nomes relacionados

Documentação Associada

Bibliografia
Publicações
Publicação parcial: Fernando Pessoa, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho, Lisboa, Edições Ática, 1966, pp. 282-284.
Publicação integral: Fernando Pessoa, Heróstrato e a Busca da Imortalidade, edição de Richard Zenith, Lisboa, Assírio & Alvim, 2000, pp. 242-243.
Exposições
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