Imprimir

Medium

Fundo
Fernando Pessoa
Cota
BNP/E3, 14B – 59
Imagem
Some observations on Mr. G. K. Chesterton
PDF
Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
Some observations on Mr. G. K. Chesterton
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[BNP/E3, 14B – 59]

 

Some observations on Mr. G. K. Chesterton

 

One of the several ideas on which Mr. G. K. Chesterton is always insisting is that nothing hinders success so much as to be always think[ing] of success, or to make of success a cult. This is, of course, only one example of his general position that nothing so fails to attain a thing, as to be always thinking of it.

 

Leaving for a moment the general position which this particular one represents in one respect, we will do no more than criticize the assertion that nothing so hinders success as the cult of success.

 

I Have always thought so. But I disagree with Mr. Chesterton. The point is that he has not hit the right nail on the head: the point is that, although he has, he has driven it in crooked. At least, he has omitted to back up his statement with the one real argument sustaining it.

 

Mr. Chesterton’s general position is for instinct against intelligence; he is thus, in his own and original way, a member of that great contemporary current which is a reaction against rationalism, against {…}, against too much explaining, of which the first manifestation was the literary movement called “symbolism”.

 

No one by taking thought addeth a cubit to his stature. That is true. But it is also true that by not taking thought no cubit is likewise added. Thinking about things may not explain them; but not thinking about them is hardly calculated to explain them[1].

 

Mr. Chesterton’s error is the error of anti-rationalists, which is precisely the kind of error which the rationalists commit. Explanations are absurd; but explanations are natural. It is natural to try to explain things; it is also natural to notice that we cannot explain them. The only thing unnatural to ex-

 

[59v]

 

plain by non-explanation. That is no longer even paradox; it is nonsense.

 

Mr. Chesterton is up against decadence. This is quite natural, but it is not according to his principles. Decadence is a part of life: rot is also life. A defender of life should defend decadence. A defender of instinct should defend decadent instinct, not because it is decadent but because it is instinct.

_______

The cult of success leads to failure because the cult of success is not the cult of a real thing. Success is nothing. Success is an abstraction. You must run after concrete things to be able to catch them: you can catch a hare; there are many ways to do it. But you cannot catch the idea of a hare, because you cannot, to begin with, run after it, nor see it, nor hold it, nor do with it anything included the idea of catching it. Similarly you cannot pursue success, simply success, because success is the idea of success, unless it is some sort of success, some concrete sort of success. You can work and strive for riches, you can strive and work for fame, you can struggle and fight for position, you can fight and struggle for a woman – all these things are success, but each and all are concrete success, things. After “success” you cannot strive nor work nor struggle nor fight, because success is nothing. It has to be some sort of success to be some sort of success.

 

 

[BNP/E3, 14B - 59]

 

Algumas observações sobre o Sr. G. K. Chesterton

 

Uma das várias ideias em que o Sr. G. K. Chesterton sempre insiste é que nada impede tanto o sucesso quanto estar sempre a pensar no sucesso ou em fazer do sucesso um culto. Este é, claro, apenas um exemplo de sua posição geral de que nada impede tanto alcançar uma coisa, como estar sempre a pensar nela.

 

Deixando por um momento a posição geral que esta em particular representa num certo aspecto, não faremos mais do que criticar a afirmação de que nada impede tanto o sucesso quanto o culto do sucesso.

 

Sempre pensei assim. Mas discordo do Sr. Chesterton. A questão é que ele não acertou correctamente o prego na cabeça: a questão é que, embora tenha acertado, ele deixou-o torto. Pelo menos, ele não fundamentou a sua afirmação no único argumento real que a sustenta.

 

A posição geral do Sr. Chesterton é a favor do instinto contra a inteligência; ele é assim, a seu modo original, um membro daquela grande corrente contemporânea que é uma reacção contra o racionalismo, contra {…}, contra o excesso de explicação, cuja primeira manifestação foi o movimento literário denominado “simbolismo”.

 

Ninguém ao pensar adiciona um côvado à sua estatura. Isso é verdade. Mas também é verdade que, se não pensarmos, nenhum côvado é, da mesma forma, adicionado. Pensar nas coisas pode não explicá-las; mas não pensar sobre elas dificilmente poderá explicá-las.

 

 O erro do Sr. Chesterton é o erro dos anti-racionalistas, que é precisamente o tipo de erro que os racionalistas cometem. As explicações são absurdas; mas as explicações são naturais. É natural tentar explicar as coisas; também é natural perceber que não podemos explicá-las. A única coisa não natural de ex-

 

[59v]

 

plicar pela não explicação. Isso não é sequer um paradoxo; é algo sem sentido.

 

O Sr. Chesterton luta contra a decadência. Isso é bastante natural, mas não está de acordo com os seus princípios. A decadência faz parte da vida: a podridão também é vida. Um defensor da vida deve defender a decadência. Um defensor do instinto deve defender o instinto decadente, não porque seja decadente, mas porque é instinto.

_______

O culto do sucesso conduz ao fracasso porque o culto do sucesso não é o culto de uma coisa real. O sucesso não é nada. O sucesso é uma abstracção. Deve-se correr atrás de coisas concretas para poder pegá-las: pode-se pegar uma lebre; existem várias maneiras de fazê-lo. Mas não se pode pegar a ideia de uma lebre, porque não se pode, para começar, correr atrás dela, nem vê-la, nem segurá-la, nem fazer com ela qualquer coisa, nomeadamente a ideia de pegá-la. Da mesma forma, não se pode perseguir o sucesso, o simples sucesso, porque o sucesso é a ideia de sucesso, a menos que seja algum tipo de sucesso, algum tipo concreto de sucesso. Pode-se trabalhar e lutar por riquezas, pode-se lutar e trabalhar pela fama, pode-se batalhar e lutar por uma posição, pode-se batalhar e lutar por uma mulher - todas essas coisas são sucesso, mas cada uma e todas são sucesso concreto, coisas. Não se pode esforçar, nem trabalhar, nem batalhar, nem lutar pelo sucesso, porque o sucesso não é nada. Tem de ser algum tipo de sucesso para ser um tipo de sucesso.

 

 

 

[1] calculated to explain them /likely to do so\

Notas de edição
Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/3161

Classificação

Categoria
Literatura
Subcategoria

Dados Físicos

Descrição Material
Dimensões
Legendas

Dados de produção

Data
Notas à data
Datas relacionadas
Dedicatário
Destinatário
Idioma
Inglês

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Estado de conservação
Entidade detentora
Historial

Palavras chave

Locais
Palavras chave
Nomes relacionados

Documentação Associada

Bibliografia
Publicações
Pauly Ellen Bothe, Apreciações literárias de Fernando Pessoa, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2013, pp. 97-98.
Exposições
Itens relacionados
Bloco de notas