Identificação
[BNP/E3, 14C – 1]
Júlio Dantas.
O Sr. Júlio Dantas é, segundo nós, um desses poetas de 3ª ordem cuja obra é caracterizada por uma elegância de ideias e de versos e pela ausência completa do sublime, do violento e do profundo. É do género de François Coppée e de {…} – do género cujo representante mais {…} foi Campoamor. – Nos versos do Sr. Júlio Dantas tudo é gracioso, ligeiro, bonito; é tudo agradável. É um poeta de salão – um bom poeta de salão. Falando nele vêm |a pêlo| as expressões usuais que sentimos caberem-lhe bem: mimoso poeta, delicado poeta, poeta mavioso. Ele é, com efeito, tudo isto. A característica principal do seu estilo é a elegância; nesta palavra se engloba e se resume todo o seu ser literário. O que não quer dizer que não possa ser classificado de bom poeta; mas o termo que lhe convém é o de poeta elegante.
Querer, porém, elevá-lo a grande poeta, a vate, a {…} é mau serviço que se lhe presta. É preparar um Outro que[1] ainda o desconhece a achar-lhe beleza de ordem que ele não tem.
Como prosador ficam-lhe melhor (o termo é tirado da elegância do vestuário) os estudos e escritos de fidalguias passadas, nobrezas idas – todos esses marialvados {…}. Como romancista falhou; com a sua constituição mental não se fazem romancistas. Nem tem a visão imaginativa dos caracteres que lhe permita
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apanhar-lhes de golpe o psiquismo diferencial e fazê-lo viver na sua alma; nem tem as faculdades de análise que lhe permitam escrever romances introspectivos e |analíticos|. A sua outra ordem de escritos – os estudos científicos – não a podemos considerar bem feitos[2], pois que, conquanto mostrem erudição e trabalho no obter materiais, são deploravelmente falhos no elemento formal. Os materiais não estão trabalhados pelo raciocínio; os factos não o levam a conclusões claras e nítidas. O melhor estudo é talvez o de D. Duarte. Mas[3] mesmo esse não está disposto de modo a cativar qualquer inteligência acostumada a exposição científica.
Como nos propusemos a tarefa de apreciar os poetas portugueses contemporâneos, como o Sr. Júlio Dantas é sem dúvida um bom poeta destes mencionando-o, mas nestas poucas linhas que para mais não dá, atente a sua psicologia extremamente simples, aquilo a que se chamaria o seu perfil literário.
É, confessamo-lo, mais {…} que Campoamor, conquanto menos epigramático; mas essa diferença é a de português a espanhol, e de espanhol a português.
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[1] que /quem\
[2] feitos/a\
[3] Mas /nem\ mesmo esse não