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Fundo
Fernando Pessoa
Cota
BNP/E3, 14C – 69
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MOLDURA
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Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
MOLDURA
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[BNP/E3, 14C – 69]

 

MOLDURA

 

O meu velho amigo Da Cunha Dias leu-me há uma semana – ou, melhor, em parte leu-me e em parte me narrou – o seu livro Amor de Outono, a sair, creio, em breve, sendo todavia precedido de um outro, de índole oposta, intitulado Ao Correr da Pena.

 

Esse livro Amor de Outono é a narrativa – ou, antes, a exposição – de um episódio da vida de Lopo Pereira da Cunha, que se dizia primo do Da Cunha Dias – parentesco que este não assegura –, que foi um dos espíritos marcantes da geração chamada “de 1907” (do ano da greve académica em que se definiu), que partiu há dois anos para o Cazengo e que ali morreu há meses. São desse Lopo Pereira da Cunha as duas últimas partes do livro – umas Cartas a Branca que formam a segunda parte, e uns esparsos, em prosa que deveria ser verso, que constituem a terceira. A primeira parte do livro é do Da Cunha Dias; narra isto mesmo desenvolvidamente, historia o encontro com Lopo da Cunha, em vésperas de partida, quando este confiou a seu primo esses escritos e explica que o em que tudo isso se funda (e de aí o título do livro) foi um caso passado no Outono, poucos meses antes do Janeiro em que Lopo da Cunha embarcou para África.

 

Estas considerações não servem mais que de moldura ao pequeno quadro constituído pelos trechos que hoje se publicam; eles, compreensíveis e apreciáveis em si mesmos, dispensam explicação propriamente literária. Esses trechos curiosos são extraídos – diga-se escusadamente – da terceira parte do livro a que me tenho referido.

 

São curiosos porque são poemas escritos em prosa sem que a prosa simule o movimento do poema, como na chamada ritmada. São escritos, evidentemente, por alguém que ou era orador, ou o deveria ser, visto que, ao passo que a prosa ritmada traz em surdina um acompanhamento de música, nesta se sente a voz desacompanhada, vivendo da sua própria vida.

 

São curiosos, ainda, porque apelam, em seu modo, para a mais antiga e a mais portuguesa das nossas tradições literárias – o lirismo cavalheiresco, com a sua ternura viril e o seu desprendimento interessado.

 

FERNANDO PESSOA

  

Notas de edição

Versão datilografada do testemunho impresso publicado por Fernando Pessoa com a referência: «Poesias de um prosador», in Diário de Lisboa, Suplemento Literário, 11 de Novembro de 1935, p. 2.

Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/3224

Classificação

Categoria
Literatura
Subcategoria

Dados Físicos

Descrição Material
Dimensões
Legendas

Dados de produção

Data
Notas à data
Datas relacionadas
Dedicatário
Destinatário
Idioma
Português

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Estado de conservação
Entidade detentora
Historial

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Nomes relacionados

Documentação Associada

Bibliografia
Publicações
As diferenças entre o testemunho impresso e a versão dactilografada são publicadas, como notas genéticas, em: Pauly Ellen Bothe, Apreciações literárias de Fernando Pessoa, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2013, p. 400-402.
Exposições
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