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Fernando Pessoa
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BNP/E3, 14-1 – 43-43a
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[Sobre a questão do estilo]
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Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
[Sobre a questão do estilo]
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[BNP/E3, 141 – 43-43a]

 

O estilo que compete aos assuntos de raciocínio e de exposição não é da mesma ordem que o que naturalmente se ajusta a matéria puramente literária. Digo, não só que não deve ser, senão que de facto não é.

O raciocinador ou o expositor, concentrado na clareza do raciocínio ou na perspicuidade da exposição, afasta de si instintivamente todo excesso de metáforas e de imagens quando não de todas e quaisquer figuras de retórica. O seu vocabulário é pobre e simples, nem sabe dessa pobreza ou simplicidade senão quando o termo rico ou erudito se torna necessário, ou para dar mais precisão a uma ideia, ou para evitar o emprego de mais

 

[43av]

 

palavras, sendo que em todo discurso, e inversamente ao expositivo, o interesse de empregar o menor número possível de vozes sobre[1] todas as outras prevalece[2]. Como a ideia, desejada ou exposta, é o fundamento do discurso expositivo, é pelo ritmo das ideias e só esse que o expositor naturalmente se guia.

A quem escreva ou pretenda escrever, com preocupações simultâneas de expor e de ser “artista”, ou de expor e ostentar riqueza de propriedade ou de expressão, sucede o que sucede a todos que tentam dar, num só momento, atenção a duas coisas diversas.[3] Re-

 

[43v]

 

sulta o que podemos chamar uma síntese negativa, e a perspicuidade sofre[4] com o que a arte não ganha.

Outro é o critério estilístico quando se pretende fazer prosa “de arte”; aí é igual ao de quando se escreve verso, segue-a não o ritmo das ideias, mas o das palavras, e neste colaboram as imagens, as metáforas, e as mesmas ideias, não como ideias, mas como elementos de sugestão.

Onde o expositor pretende ensinar, pretende o artista sugerir. O primeiro se dirige directamente ao entendimento; o segundo, sim, também ao entendimento, porém através da imaginação.

 

[43ar]

 

Compare-se a riqueza de vocabulário de Camilo e de Aquilino, ou ainda, em outra forma de Fialho – todos eles enfáticos, mas todos incapazes de raciocínio coerente –, como, quando mais não seja, a |*pretensão| de |*ser| de Antero filósofo (e até poeta).

Repare-se como Ricardo Jorge enquanto teórico de ciência, frequentemente perde o fio ao pensamento e à exposição por dela se ter desviado por escrúpulos estranhos de vocabulário e de propriedade[5].

 

 

 

[1] sobre /a\

[2] prevalece /se antepõe\

[3] This does not matter at all.

[4] sofre /perde\

[5] propriedade. /purismo\

Notas de edição
Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/4231

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Literatura
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Dados Físicos

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Legendas

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