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Fundo
Fernando Pessoa
Cota
BNP/E3, 14-1 – 99
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[Sobre a tradução]
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Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
[Sobre a tradução]
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[BNP/E3, 141 – 99]

 

I do not know whether anyone has ever written a History of Translation[1]. It should be long, but a very interesting book. Like a History of Plagiarisms – another possible masterpiece which awaits an actual author – it would brim over with literary lessons. There is a reason why one thing should bring up the other: a translation is only a plagiarism in the author’s name. A History of Parodies would complete the series, for a translation is a serious parody in another language. The mental processes involved in translating well are the same as those involved in translating competently. In both cases there is an adaptation to the spirit of the author for a purpose which the author did not have; in one case the purpose is humour, where the author was serious, in the other one language when the author wrote in another. Will anyone one day parody a humorous into a serious poem? It is uncertain. But there can be no doubt that many poems – even many great poems – would gain by being translated into the very language they were written in.

 

This brings up the problem as to whether it is art or the artist that matters, the individual or the product. If it be the final result that matters and that shall give delight, then we are justified in taking a famous poet’s all but perfect poem, and, in the light of the criticism of another age, making it perfect by excision, substitution or addition. Wordsworth’s Ode on Immortality is a great poem, but it is far from being a perfect poem. It could be rehandled to advantage.

 

The only interest in translation is when they are difficult, that is to say, either from one language into a widely different one, or from a very complicated poem though into a closely allied language. There is no fun in translating between, say, Spanish and Portuguese. Any one who can read one language can automatically read the other, so there seems also to be no use in translating. But to translate Shakespeare into one of the Latin languages would be an exhilarating task. I doubt whether it can be done into French; it will be difficult to do into Italian or Spanish; Portuguese, being the most pliant and complex of Romance languages, could possibly admit the translation.

 

 

[BNP / E3, 141 - 99]

 

Não sei se alguém já escreveu uma História da Tradução. Deveria ser um livro longo, mas muito interessante. Como uma História de Plágios - outra possível obra-prima que aguarda um autor de verdade - ela transbordaria de lições literárias. Há uma razão pela qual uma coisa deve conduzir à outra: uma tradução é apenas um plágio em nome do autor. Uma História de Paródias completaria a série, pois uma tradução é uma paródia séria noutra língua. Os processos mentais envolvidos numa boa tradução são os mesmos envolvidos numa tradução competente. Em ambos os casos há uma adaptação ao espírito do autor para uma finalidade que o autor não teve; num caso, o propósito é o humor, quando o autor estava a falar a sério, no outro uma língua quando o autor escreveu noutra. Será que algum dia alguém parodiará um poema humorístico num poema sério? É incerto. Mas não pode haver dúvida de que muitos poemas - até mesmo muitos grandes poemas - ganhariam em ser traduzidos para a mesma língua em que foram escritos.

 

Isso levanta o problema de saber se o que importa é a arte ou o artista, o indivíduo ou o produto. Se for o resultado final que importa e que dará prazer, então estamos justificados em tomar o poema quase perfeito de um poeta famoso e, à luz da crítica de outra época, torná-lo perfeito por excisão, substituição ou adição. A Ode on Immortality de Wordsworth é um grande poema, mas está longe de ser um poema perfeito. Isso poderia ser reelaborado com proveito.

 

O único interesse nas traduções é quando elas são difíceis, isto é, ou de uma língua para outra muito diferente, ou de um poema muito complicado embora em uma língua intimamente associada. Não há graça em traduzir entre, digamos, espanhol e português. Qualquer um que pode ler um idioma pode ler automaticamente o outro, portanto, também parece não haver utilidade em traduzir. Mas traduzir Shakespeare para uma das línguas latinas seria uma tarefa estimulante. Duvido que isso possa ser feito em francês; será difícil de fazer em italiano ou espanhol; o português, sendo a mais flexível e complexa das línguas românicas, poderia admitir a tradução.

 

[1] Translation/(s)\

Notas de edição
Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/4258

Classificação

Categoria
Literatura
Subcategoria

Dados Físicos

Descrição Material
Dimensões
Legendas

Dados de produção

Data
Notas à data
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Dedicatário
Destinatário
Idioma
Inglês

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Estado de conservação
Entidade detentora
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