Identificação
[BNP/E3, 144 – 85-85a]
Começa-se a falar no povo como numa realidade. Aquele período foi o romper da democracia. Foi excessivo; caiu. Mas a semente estava lançada à terra. Desde Cromwell e não desde Drake é que o povo inglês vale o que vale. Pensar o romantismo é romântico.
[85v]
Consumou profundamente a beleza austera daqueles sonetos. Sentimo-nos não dispostos directamente a admirar, como perante Shakespeare, mas a respeitar. É o sentimento quase exclusivo que nos ocupa ante essa obra.
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Não é bondade, é justiça. Shelley era melhor do que Milton. Podemos amar Shelley; Milton está um tanto além da esfera das coisas que amamos, mesmo das que admiramos. Respeitamo-lo e a admiração que haja em nós por ele está envolta nesse respeito.
[85ar]
A nota dominante de Milton é a nota moral. Mesmo no puramente artístico a solenidade e a sobriedade que coexiste com a beleza faz transparecer a austeridade do carácter. Em Milton moral e imaginação estão ligadas, duas formas nele da sua grandeza de alma.
Nos isabelianos a imaginação é essencial; em Milton o carácter. A poesia de Milton é a poesia da austeridade, da sinceridade. (É essa, de resto, a qualidade mais alta da raça inglesa máxima.)
[85av]
A poesia de Milton resume-se nisto: a grandeza de alma tornada poesia[1]. Os vários elementos dessa grandeza vão-se manifestando no belo. Nos 1os poemas temos a sobriedade tornada beleza; nos sonetos é a austeridade, nos épicos a solenidade (ou fé) e no Samson Agonistes a solidão que se incarna com beleza respectivamente. Lindamente bem o mediu, no célebre soneto (cheio ele mesmo do espírito miltónico): – {…}
[1] poesia /beleza\