Identificação
[BNP/E3, 145 – 36r]
É preciso distinguir entre a pausa rítmica e a cesura. Por exemplo, no verso de Camões
Albuquerque terríbil || Castro forte
é evidente que a cesura é depois da palavra terríbil, mas as pausas rítmicas são
Ălbŭquérquĕ | tĕrríbĭl | Căstrŏ fórtĕ
o que é fácil de confirmar, lendo alto este verso e com correcta intonação; ver-se-á que há uma pausa natural (e rítmica) por ligeira e vaga que seja depois da palavra Albuquerque. Uma tentativa para ler aquele verso ou como birítmico ou como tendo uma pausa rítmica depois da palavra Castro mostrará ainda mais a verdade desta asseveração.
A pausa, as pausas rítmicas dependem só da rítmica; a cesura não é senão a pausa gramatical.
Suponhamos que Camões houvera escrito, inserindo o artigo o
Albuquerque o terríbil, Castro forte
o verso resultara (como a leitura imediatamente mostrará) num menos bem-soante. A ler o verso de modo que se oiça o artigo o (com o a-
[36v]
centuar indevidamente) achará um ouvido sensível ao ritmo uma estranheza, como que uma inabilidade rítmica. E há-a decerto e consiste em forçar a palavra Albuquerque a apropriar-se ritmicamente do artigo o que devia pertencer ao pé rítmico dominado pela palavra terríbil, de que aquele artigo é enclítico[1].
Ălbŭquérquĕ ŏ | tĕrríbĭl | Căstrŏ fórtĕ
Já sabemos que é uma lei do ritmo (a evolução da qual fere o ouvido, como no caso actual) que as enclíticas e proclíticas de uma palavra hão de pertencer-lhe ritmiticamente, fazer parte do pé rítmico em que ela domina.
_______
Notas
Poĭs ă năo téus | ă mórtĕ | sĕriă d’éllă
[1] en/pro\clítico