Identificação
[BNP/E3, 141 – 82-83]
_______
Pascoaes, António Correia de Oliveira e Lopes Vieira nenhum deles artista. Lopes Vieira, ao querer sê-lo cai, ao querer “versar” diz asneiras ou nulidades. Ou tem de se abandonar à sua imaginação, ou de não escrever. A geração não era de artistas.
(O tipo oposto é Eugénio de Castro; este tem que pensar artisticamente os seus versos. A condição da sua inspiração é ser artisticamente pensada.)
_______
A superioridade de Pascoaes consiste em que, dos 3, é ele o único que sugere. Nenhum dos outros tem daqueles versos cujo efeito é logicamente inexplicável, nos {…}. Nenhum dos outros era capaz de escrever um verso como
Sete lágrimas frias do silêncio
[82v]
verso onde tudo desde a mera sugestão que lhe é sentida até à música esbatida e longínqua obtém o efeito poético.
É por isso de Pascoaes que sai a moderna geração de poetas. Quer queiram, quer não, é com Pascoaes, que é o seu parentesco espiritual. Daí a fama actual deste poeta, despercebido quase de tudo, senão de tudo, no período 1898 a 1910 aproximadamente. Mas a hora soou para a sua fama. Creio que assim como veio, passará. Como passaram Eugénio de Castro, António Nobre, Correia de Oliveira e Lopes Vieira. Este “passar” não quer dizer “morrer”. Nenhum destes poetas morrerá. Quer dizer perdurar como influência, estar na hora inspiracional.
Só um homem, Junqueiro, o tem feito. Nem Antero o fez.
[83r]
Sei de um indivíduo, português, homem de poesia, e talvez o mais subtil de todos os espíritos de artista que faz estar nós hoje, que não contrário nos interesses aos poetas da nova geração. António Correia de Oliveira, Lopes Vieira interessam-no, mas pouco o comunicam. Li uma vez e em † a Elegia de Teixeira de Pascoaes. Ficara deslumbrado e comovidíssimo. É que este poeta pode medir-se com os simbolistas por vezes em matéria de sugestão.
_______
Não há, por isso, coterie. Há que Pascoaes é a “influência” de hoje. Com justiça o é. Isso incita alguns que já o foram? Mas que culpa tem a Renascença? Ela não é anterior da evolução do mundo e não o é, portanto, da evolução da poesia portuguesa.