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Fundo
Fernando Pessoa
Cota
BNP/E3, 14-3 – 60-61
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Balança de Minerva.
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Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
Balança de Minerva.
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[BNP/E3, 143 – 60-61]

 

Balança de Minerva.

 

Entre as várias coisas que copiamos do estrangeiro – o que lá mau com aspecto de bom, porque é isso que é mais fácil de copiar – uma das coisas mais espertamente copiadas com toda a ociosidade da nossa inconsciência é o conceito falso e antigo de que o canto constitui uma arte – uma arte susceptível de evolução. Ao suceder que resta ao canto um único estádio evolutivo – evoluir para deixar de existir.

Porque, no futuro lógico e desejável das artes, o canto, e tudo quanto opera ou {…} se baseie ou relacione com ele, está condenado. Essa arte primitiva e selvagem, ao ser aperfeiçoada através não sei que óbvio número de escolas e sistemas, terá possivelmente contribuído para perfeita – mas não evoluiria para fora de selvagem e primitiva, porque em sua substância íntima de cantar é primitiva e selvagem.

 

{…} para uma heterogeneidade

 

[60v]

 

puramente sinfónica. Serão obras sinfónicas em […] quartos. E o teatro […] será lírico no sentido classificativo que os retóricos são à palavra, lírico de poeta lírico, obras líricas como o Fausto de Goethe, o Prometeu Liberto de Shelley, a Pátria de Guerra Junqueiro. Essas obras contêm a música já, no seu tom de poéticas e irreais. Não parecia que um compositor qualquer os venha estragar com boa ou má música.

E o canto ficará uma arte de salão, para a estupidez das senhoras e a idiotice dos cavalheiros que fazem arte nas salas. Fique aí e daí não saia.

E oxalá que o poeta, assim como proximamente julgará aquele super-Camões que já vive aí no trabalho de anunciar, produza o verso que tenha a compulsão nítida de que deve a sua lírica e a sua arte, e escreve apenas um libreto, consciente de se bastar como músico.

 

[61r]

 

Toda a arte, para poder ser perfeita e complexa, tem de ser em sua essência, simples. O canto é duas coisas – música e poesia (ou poema); é pois uma música presumidamente complexa. Para obter um efeito vale-se do método primitivo de juntar duas artes, em vez de se cingir a uma e intensificá-la. O horrível e impensável crime de fazer estátuas primitivas está em perfeita análise com o crime estético de cantar ou gostar do canto, porque num caso o escultor conforma, no pintor de altos efeitos pela pintura, que não podia obtê-los pela escultura apenas; como na verdade o músico ou o poeta se confessa impotente para dar à sua música a expressão sumptuosa para que ela veja os seus próprios problemas, ou à sua poesia o ritmo verbal que enquista por desnecessário, o poético auxilia-se da música. É provável que a poesia mais precisa que há na verdade – a de Shelley – é eternizada nos seus ritmos pela música, senão, consoante julgamos necessário, dizer musicável de tudo.

A evolução faz-se por diferentes gerações. No futuro o poeta será poeta, e o músico músico. Nenhum irá pedir à arte da arte que lhe seja muletas a andar para a coxeza a pequena estatura da sua inspiração. As óperas serão {…}

 

[61v]

 

_______

Hoje, a única coisa que um artista pode ser em relação ao teatro é incendiário dele. E, não tendo essa voz, deve ao menos o substituir seu desdém ao facho redentor.[1]

 

 

[1] Em dívida 4.000

Rec.o Nov.o 6.700 – 10:700

________________

Cartas circs 7.200

Outras cartas 4.700 – 11:900

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Dezº

Recebo – 1.000 – 1000

Cartas fas – 1.000 – 1600.

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Notas de edição
Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/4454

Classificação

Categoria
Literatura
Subcategoria

Dados Físicos

Descrição Material
Dimensões
Legendas

Dados de produção

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Português

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Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
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