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Fundo
Fernando Pessoa
Cota
BNP-E3, 19 - 83
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Impermanence
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Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
Impermanence
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[19 – 83]

 

Impermanence

 

First comes the choice of authors. Gradually, the lesser ones, the derivative ones, will fall back, and the outstanding personalities come to the fore. The works of these, then, shall be themselves sifted, and the natural choice, which took place among authors, shall come to happen to the poems of each author who has survived. An anthology shall be born for each nation – an over-rich, yet no longer a questionable anthology. A final sifting will narrow this to the permanent best.

Thus will the gradual sentence of the ages be passed, and fame narrow down from author to anthology, and from the larger anthology to the smaller one.

For a mind that looks, beyond the externals of the present, to that immortal substance of Beauty which keeps herself shut from what passes, and whose secret is only told to ears closed to the sounds of life and of fame – to a mind like this the unborn trail of the process is simple to foresee. It were a harder, to |most| extent a useless, though nowise an uninteresting task, to determine, by colour of critical likelihood, which of the authors, past or present, of our civilization can hope for the forum of the men[1].

Yet if we have ever present those principles which are the embalmers of written beauty, the donors of perennity, and the statuaries of immortal fame, we shall be sure of some books, of some poems, though

 

[83v]

 

some others will make us hesitate.

It does not take a very long consideration to perceive the |definite| immortality of Vigny’s MoïseLa Colère de Samson, La Mort du Loup[2], nor of Keats’ Odes to a Nightingale, to a Grecian Urn, to Autumn, to Melancholy. These poems are as fine as Lycidas and shall live when Venus and Adonis and The Rape of Lucrece shall have gone to human limbo to which all immature beauty is consigned.

 

The “haunting melody” poets will, of course, die altogether. A “haunting melody” is too ghostly to outlive a short succession of presents.

 

The principle of representativeness will save a few works which the principle of perfection cannot of itself let pass. The whole line of boisterous English humour, a unique and deserving thing, will probably survive only in “Pickwick Papers”, which all that Dickens can send in for acceptance to the Gods.

 

 

[19 – 83]

 

Impermanência

 

Primeiro vem a escolha dos autores. De um modo gradual, os menores, os derivados, ficarão para trás e as personalidades extraordinárias tomarão a dianteira. As obras destes, então, serão peneiradas e a escolha natural, que ocorreu entre os autores, acontecerá aos poemas de cada autor que sobreviveu. Nascerá uma antologia para cada nação – uma antologia demasiadamente rica, mas não mais questionável. Uma peneiração final reduzi-la-á àquilo que existe de permanentemente melhor.

Assim, a sentença gradual das épocas será proferida e a fama diminuirá de autor para antologia e de uma antologia maior para uma menor.

Para uma mente que olhe, além da exterioridade do presente, para aquela substância imortal da Beleza que se mantém fechada àquilo que passa e cujo segredo apenas é proferido a ouvidos fechados para os sons da vida e da fama – para uma mente como esta, a trilha do processo ainda por vir é simples de prever. Seria uma tarefa mais difícil, em grande medida inútil, embora de modo nenhum desinteressante, determinar, à luz da probabilidade crítica, quais dos autores, passados ou presentes, da nossa civilização podem esperar atingir o fórum dos homens.

Contudo, se alguma vez apresentarmos aqueles princípios que são os embalsamadores da beleza escrita, os doadores de perenidade e os escultores da fama imortal, deveremos estar certos a respeito de alguns livros, de alguns poemas, embora

 

[83v]

 

alguns dos outros nos farão hesitar.

Não é preciso demorarmo-nos muito em considerações para perceber a imortalidade definitiva de MoïseLa Colère de Samson, La Mort du Loup de Vigny, nem das Odes to a Nightingale, to a Grecian Urn, to Autumn, to Melancholy de Keats. Estes poemas são tão belos como Lycidas e deverão sobreviver quando Venus and Adonis e The Rape of Lucrece tiverem ido para o limbo humano ao qual toda a beleza imatura é consignada.

 

Os poetas da “melodia assustadora” irão, é claro, morrer completamente. Uma “melodia assustadora” é demasiado fantasmagórica para sobreviver a uma breve sucessão de presentes.

 

  O princípio da representatividade salvará algumas obras que o princípio da perfeição não pode por si só deixar passar. Toda a linhagem do humor inglês barulhento, algo único e meritório, irá provavelmente sobreviver apenas nos “Pickwick Papers”, que é tudo o que Dickens pode enviar para aceitação dos Deuses.

 

 

[1] forum of the /(ultimate)\ men /gods\

[2] /(perhaps)\ La Mort du Loup

Notas de edição
Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/2759

Classificação

Categoria
Literatura
Subcategoria

Dados Físicos

Descrição Material
Dimensões
Legendas

Dados de produção

Data
Notas à data
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Dedicatário
Destinatário
Idioma
Inglês

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Estado de conservação
Entidade detentora
Historial

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Documentação Associada

Bibliografia
Publicações
Fernando Pessoa, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho, Lisboa, Edições Ática, 1966, pp. 286-288.
Exposições
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