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Fundo
Fernando Pessoa
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BNP/E3, 14-5 – 19-23
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[Sobre o poema “Antinous”]
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Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
[Sobre o poema “Antinous”]
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[BNP/E3, 145 – 19-23]

 

III

 

The sociological argument against such a poem as Antinous concerns itself no longer with the aesthetic point, which is that it is unprintable; or with the psychological one, which is that it is an evil influence; but with the direct moral point, which is that pederasty is unnatural, that it is corrupt or unhealthy and that evil results follow its practice. Reference is, of course, to the pederasty expressed across “Antinous”; it will soon be seen why I work this distinctive distinction. Now I propose to demonstrate that pederasty, as set forth in my poem, is not unnatural, is not corrupt as unbeauty, and that no evil results follow in its practice.

|The argument as to the unnaturalness of pederasty does not concern itself spoil with that kind expressed in my poem, but with all types|, and naturally includes, besides pederasty, all those sensual poems which may be described as unnatural. It will be necessary, in the aesthetics, to determine

 

[20r]

 

in virtue of what anterior or sexual process is held to be unnatural. We shall set aside the notion that it is unnatural because it is corrupt or unhealthy; that is another part of the argument, and, as shown in the first paragraph of this section, will be discard later. Nor shall we consider the assumption that it is unnatural because it is degrading and unprofitable to the practiser; that will be discard later also. We are at this moment concerned with the truth of the mere description of paederasty as unnatural, that is to say, as inimical to the ends of sensuality or contrary to the natural aims of nature.

Natural sexuality involves a typical element: the direct pleasure which is sought; the attractiveness of the being which bonds the extant of pleasure to be expected; and the procreative purpose directed by Nature to be the natural result of the process.

 

[21r]

 

It cannot be claimed against paederasty, or against any sexual perverse or perversion, or even against any human art, that it is not carried out for pleasure or gratification of some sort. Least of all can such a caveat be entered against any sexual perverse. The only claim that might be put against a certain sexual pleasure is not that it is not pleasure, but that it is not sexual; this cannot stand against any sexual poets, normal or abnormal, homo- or heterosexual. It may claim that it does not give all pleasure, or complete pleasure; that is to say, that it is a substitute for a great pleasure. The argument would be cogent if applied to the paederasty of seniles or †, who are

 

[22r]

 

strangely sexual, would much properly come, |*when we must get there|. But this is not the case we are discussing. It would similarly apply to the masturbation when practitioners † are not of timidity or one similar case. But this, again, is not the case in point.

It might, lastly, be claimed that paederasty does not give nothing but pleasure – that there is an almost other than pleasure that traits and spoils the process. But, as we are referring, for the artist of the argument, to the natural paederasty, who takes pleasure in his sexual process and has no sense of vice in it, the argument, which would be generally applied to incest, for instance, goes the same way of the other argument. My poem does not refer to a paederast who conceives paederasty to be rising in his poetics; but to another one who conceives himself merely to be boring.

 

[23r]

 

So that, in respect to the natural part of sexuality which relates exclusively to the element “pleasure”, there is nothing to be said against the paederast. Now (a)

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2

We will now consider the argument that paederasty – the paederasts of Antinous, be it now described – is corrupt or unhealthy.

The notion of corruption, as applied to spiritual things, is derived from the nature of ruthlessness, as applied to material ones.

 

 

[BNP/E3, 145 – 19-23]

 

III

 

O argumento sociológico contra um poema como Antinous não diz mais respeito ao ponto estético, que é o de não ser imprimível; ou ao psicológico, o de que é uma má influência; mas ao ponto imediatamente moral, o que de que a pederastia não é natural, que é corrupta ou doentia e que maus resultados seguem a sua prática. A referência é, claro, à pederastia expressa em “Antinous”; logo se verá por que trabalho esta distinção distintiva. Agora proponho-me demonstrar que a pederastia, como exposta no meu poema, não é antinatural, não é corrupta como a falta de beleza, e que nenhum mau resultado se segue à sua prática.

|O argumento sobre a não naturalidade da pederastia não se preocupa com aquele tipo expresso em meu poema, mas com todos os tipos|, e naturalmente inclui, além da pederastia, todos aqueles poemas sensuais que podem ser descritos como não naturais. Será necessário, na estética, determinar 

 

[20r]

 

em virtude de que processo anterior ou sexual é considerado antinatural. Devemos deixar de lado a noção de que não é natural porque é corrupto ou não saudável; essa é outra parte do argumento e, tal como mostrado no primeiro parágrafo desta seção, será descartada posteriormente. Nem devemos considerar a suposição de que não é natural porque é degradante e sem proveito para o praticante; isso será descartado mais tarde também. Estamos neste momento preocupados com a verdade da mera descrição da pederastia como antinatural, isto é, como inimiga dos fins da sensualidade ou contrária aos fins naturais da natureza.

A sexualidade natural envolve um elemento típico: o prazer directo que se busca; a atractividade do ser que une o restante de prazer a ser esperado; e o propósito procriador dirigido pela Natureza para ser o resultado natural do processo. 

 

[21r]

 

Não se pode alegar contra a pederastia, ou contra qualquer perverso ou perversão sexual, ou mesmo contra qualquer arte humana, que ela não seja realizada por prazer ou gratificação de algum tipo. Muito menos tal advertência pode ser feita contra qualquer perverso sexual. A única alegação que pode ser feita contra um certo prazer sexual não é que não seja prazer, mas que não seja sexual; isso não se pode contrapor a quaisquer poetas sexuais, normais ou anormais, homossexuais ou heterossexuais. Pode alegar que não dá todo o prazer, ou prazer completo; isto é, que é um substituto para um grande prazer. O argumento seria convincente se aplicado à pederastia dos senis ou †, que são 

 

[22r]

 

estranhamente sexuais, viria muito apropriadamente, |*quando devêssemos chegar lá|. Mas não é esse o caso que estamos a discutir. Da mesma forma se aplicaria à masturbação quando os praticantes † não são de timidez ou um caso semelhante. Mas este, novamente, não é o caso em questão.

Pode-se, por fim, afirmar que a pederastia não dá nada além de prazer – que há um outro quase que prazer que marca e estraga o processo. Mas, como nos estamos a referir, para o artista do argumento, à pederastia natural, que tem prazer no seu processo sexual e não tem nele nenhum sentimento de vício, o argumento, que seria geralmente aplicado ao incesto, por exemplo, vai no mesmo sentido do outro argumento. O meu poema não se refere a um pederasta que concebe a pederastia como algo elevado na sua poética; mas a outro que se considera apenas chato. 

 

[23r]

 

Assim, no que diz respeito à parte natural da sexualidade que diz respeito exclusivamente ao elemento “prazer”, nada há a dizer contra o pederasta. Agora (a)

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2

Vamos agora considerar o argumento de que a pederastia – os pederastas de Antinous, seja agora descrito – é corrupta ou não saudável.

A noção de corrupção, tal como aplicada às coisas espirituais, é derivada da natureza da crueldade, tal como aplicada às coisas materiais.

 

Notas de edição
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https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/5122

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