Identificação
Bilhete-postal enviado de Paris, a 5 de Maio de 1913.
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Aí vai outro n.º da Dispersão acabado agora: «Estátua falsa»
Só d’ouro falso os meus olhos se douram;
Sou esfinge sem mistério no poente.
A tristeza das coisas que não foram
Na minh’alma desceu veladamente.
Na minha dor quebram-se espadas d’ânsia,
Gomos de luz em treva se misturam.
As sombras que eu dimano não perduram;
Como Ontem, para mim Hoje é distância.
Já não estremeço em face do segredo;
Nada me aloira já, nada me aterra;
A vida corre sobre mim em guerra,
E nem sequer um arrepio de medo!
Sou estrela ébria que perdeu os céus,
Sereia louca que deixou o mar;
Sou templo prestes a ruir sem deus,
Estátua falsa ainda erguida ao ar...
Paris = 5 de maio 1913
Nota – A 1.ª quadra é a orquestração duma frase em prosa que lhe enviei como sendo do «Além».
Abraços e desculpas do
Sá-Carneiro