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Fundo
Mário de Sá-Carneiro
Cota
Esp.115/5_34
Imagem
Carta a Fernando Pessoa
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Autor
Sá-Carneiro, Mário de

Identificação

Titulo
Carta a Fernando Pessoa
Titulos atríbuidos
Carta a Fernando Pessoa
Edição / Descrição geral

Carta enviada de Barcelona, no dia 1 de Setembro de 1914. 

 

 **

Barcelona

1 de Setembro de 1914

 

Dr. Ribera i Rovira

Grau de Lepidopteria: -201
Grau de amabilidade: +20
Sinais particulares: bonito homem
Observações: advogado e director d’El Poble Catalá

 

Aqui tem meu querido Amigo a «ficha» de S. Exa. Ui, que amável... Levou-me hoje de passeio e pagou eléctricos, gorjetas, etc.!... Já me convidou para jantar em casa dele (que estopada!). Tem a preparar um livro 2.o de Contistas Portugueses aonde me traduzirá!... E disse-me logo que eu fazia admiráveis coisas... E pôs-se logo a tratar-me por seu amigo: «Dá-me licença, não é verdade – perguntou – mas entendo que entre artistas!...» (Passe de largo!...) Levanta as mãos aos céus Renascença e que todos os escritores portugueses a devemos circundar... Acha admiráveis os meus livros – mas foi acrescentando: «maravilhosos, fortíssimos, geniais – mas talvez bizarros, obscuros demais... E o artista deve falar ao maior número possível...» Já vê por aqui a lepidopteria. Para castigo qualquer dia leio-lhe os «Pauis» e recito-lhe o «Bailado»!... Isto e pequeninos detalhes na conversa, mil outras coisas fazem-me dar-lhe o coeficiente -20 de lepidopteria. Mas agora amável, você não calcula. Estou-lhe muito agradecido. E parece ser excelente pessoa.

Protege até do seu bolso um médico português, emigrado político, caído na miséria com uma mulher e um filho.

– Hoje levou-me a ver a catedral em construção da Sagrada Família.

Meu Amigo é

– Uma Catedral Paulica –

Sim! Pleno paulismo – quase cubismo até. – Um conjunto interessantíssimo, tudo quanto se possa imaginar de mais bizarro, de menos visto. O aspecto geral agrada-me deveras. É uma catedral de sonho, uma catedral Outra, vista noutros países, noutras intersecções. Se encontrar uma fotografia, mandar-lhe-ei. No entanto receio por certos detalhes que seja mais paulismo do Ferro ou do Carvalho Mourão que Meu ou SEU!... Em suma, mas a impressão foi óptima porque pelo menos há ali: ânsia de novo, mistério, estranheza, audácia. Talvez não haja milagre. Mas haver tudo isto é já muito.

À última hora resolvi ficar definitivamente em Barcelona. Escreva portanto sem receio para o «Palace Hotel» – ronda de S. Pedro pois este «definitivo» é pelo menos algumas semanas, juro-lhe.

Adeus por hoje.

Um grande, grande abraço do seu

Mário de Sá-Carneiro

Palace Hotel

Estou com muitas saudades suas. Escreva imediatamente!...


– Então o Unamuno foi corrido de reitor da U. de Salamanca.

Sabe?...

 

1 Escala:

Lepidopteria:

de 0 a -20 (logo -20, a lepidopteria máxima).

Amabilidade:

de 0 a +20 (logo +20, a amabilidade máxima).

 

Notas de edição

Classificação

Categoria
Espólio Documental
Subcategoria
Correspondência

Dados Físicos

Descrição Material
Tinta preta sobre folhas lisas e sobrescrito timbrados.
Dimensões
Legendas

Dados de produção

Data
1914 Set 1
Notas à data
Inscrita.
Datas relacionadas
Dedicatário
Destinatário
Fernando Pessoa
Idioma
Português

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Estado de conservação
Bom
Entidade detentora
Biblioteca Nacional de Portugal
Historial

Palavras chave

Locais
Barcelona
Palavras chave
Nomes relacionados

Documentação Associada

Bibliografia
Publicações
Sá-Carneiro, Mário de, Cartas de Mário de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa, ed. Manuela Parreira da Silva, Assírio & Alvim, Lisboa, 2001.
Exposições
Itens relacionados
Esp.115
Bloco de notas
Na transcrição das cartas: a ortografia foi actualizada e as gralhas evidentes corrigidas, mantendo, contudo, as elisões com apóstrofo e todas as singularidades da pontuação usada por Mário de Sá-Carneiro, bem como a forma original das datas, muitas vezes com o nome dos meses em letra minúscula ou abreviado. O título da revista Orpheu foi mantido na forma sempre usada por Sá-Carneiro – Orfeu. Foram mantidas, igualmente, as versões de versos e de outros trechos literários mais tarde corrigidos ou refundidos pelo poeta.