Identificação
Carta enviada de Paris, no dia 24 de Março de 1916.
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Paris – Março 1916
Dia 24
Meu Querido Amigo,
Recebi a sua admirável carta. Que Alma, que Estrela, que Oiro! Infelizmente a Zoina silva cada vez mais forte – lisonjeira, meu Deus, lisonjeira toda mosqueada a loiro e roxo: por isso mesmo cada vez mais Cobra – cada vez maior, mais perigosa. Não sei onde isto vai parar – será possível que as engrenagens me não esmaguem? Mas é tão belo fazer asneiras:
Atapetemos a vida
Contra nós e contra o mundo...
E pensar que tudo seria tão fácil, tão fácil, tão sem perigo se não fosse o eterno «dinheiro»... Então talvez que não fosse belo porque não seria perigoso. Enfim não sei nada... Não lhe posso escrever. É tudo. Mas juro-lhe que senti em toda a minha ternura a sua admirável carta. Perdoe-me. É como se estivesse bêbado.
Adeus. Escreva sempre.
Mil abraços, mil e toda a Alma do seu, sempre seu
Mário de Sá-Carneiro