Francisco Levita – de seu nome completo Francisco Lopes de Azevedo Coelho de Matos Castelo Branco Levita – marcou o meio académico coimbrão, que frequentou enquanto jovem estudante de Direito entre 1913 e 1918, pelas suas atitudes extravagantes e pela originalidade de alguns dos seus escritos. Situando-se à margem das experiências vanguardistas lisboetas – que demonstra, no entanto, conhecer em pormenor – Levita assume-se arauto do futurismo, sendo o primeiro, segundo Pierre Rivas (Europe, Março de 1975, p. 126), a organizar um «banquete futurista» em Portugal, no Hotel do Luso. Se o seu primeiro livro de poemas, Ilusões (Coimbra, 1915), se encontra ainda sob a influência directa do simbolismo e do decadentismo, a publicação, um ano mais tarde, do folheto Negreiros – Dantas. Uma página para a história da Literatura Nacional (Coimbra, 1916), anuncia claramente a sua adesão à estética futurista reafirmada em I assim… Poemas por F. L. seguidos do elogio do I e da tragédia em 1 acto Amor! Amor! (Coimbra, 1916). Pois é como vanguardista – seguidor atento de Marinetti – que Levita constrói a sua crítica ao Manifesto Anti-Dantas publicado, também em 1916, por Almada Negreiros. Através de um panfleto graficamente ousado e próximo dos preceitos futuristas – pelo modo como usa a tipografia, a pontuação, e abusa das onomatopeias – Levita insurge-se contra o poeta d’Orpheu, um «pateta que se diz Futurista e Tudo» mas que «lançou praï um manifesto em prosa de algodão tratando dum outro imbecil: o Sr. de Dantas», concluindo que, longe de ser futurista, Almada é o «Dantas N.º 2».

 

SÁ, Octaviano de, «O poeta académico Francisco Levita», in: O Primeiro de Janeiro, n.º 340, 11/12/52, p. 3; MARNOTO, Rita, «A obra de Francisco Levita, um futurismo inconcluso», in: Estudos Italianos em Portugal, n.º 51/52/53, 1988/1989/1990, pp. 145-162; ID., «Levita, Almada e Dantas. O feitiço contra o feiticeiro», in: A Cidade, n.º 9, 1994, pp. 7-21.

 

Sara Afonso Ferreira