(1900-1994)

Poetisa, romancista, dramaturga, tradutora, dedica grande parte do seu labor literário à literatura destinada à infância e juventude. As crianças merecem, de resto, a sua especial atenção, tendo fundado a Associação Nacional de Parques Infantis, facto a que não seria alheio o ser casada, desde 1922, com António Ferro, que, nos anos trinta, se movimenta nas áreas do poder político. Com o marido, comunga Fernanda de Castro, da mesma flutuação entre o tradicionalismo e o modernismo. Isso mesmo se encontra na sua obra multifacetada e vasta, onde a influência de Cesário Verde é visível, mas também um pendor para a introspecção, numa tensão constante entre interioridade e exterioridade. Em 1919, estreia-se com um livro de poemas, Ante-Manhã. E no mesmo ano, recebe um prémio pela sua peça de teatro Náufragos. Em 1945, com o romance Maria da Lua, recebe o prestigiado prémio Ricardo Malheiros e, em 1969, o Prémio Nacional de Poesia. As Aventuras de Mariazinha, «romance para meninos», com 11 edições, marcam toda uma geração e sobressaem num conjunto assinalável de títulos. Como tradutora, devem-se-lhe algumas traduções importantes de Pirandello, Ionesco, Katherine Mansfield, Rilke. Alguns dos seus poemas foram musicados, constando da banda sonora do filme de Leitão de Barros, As Pupilas do Senhor Reitor. Outra faceta da sua obra é a do memorialismo, tendo deixado dois volumes, sob o título Ao Fim da Memória (1906-1986), que constituem, sem dúvida, uma preciosa fonte para a reconstituição histórica do século XX. Fernanda de Castro pôde conviver, na sua qualidade de mulher do regime, mas também enquanto arauta de um modernismo à Ferro, com numerosas personalidades da cultura da época. São conhecidas as tertúlias que reunia na sua casa do Bairro Alto, sempre aberta à novidade e a uma certa heterodoxia.

 

Manuela Parreira da Silva