revista publicada em Coimbra de 28 de Novembro de 1914 a 25 de Fevereiro do ano seguinte, com o subtítulo Revista Quinzenal de Letras, Arte e Ciência. Na sua direcção encontram-se nomes próximos do grupo de Orpheu, como Garcia Pulido e Tito Bettencourt, este último amigo de Sá-Carneiro, que por seu intermédio lá publica vários poemas.O seu gosto modernista marca-se pela escolha do verso livre em poemas de Alfredo Pimenta ou Américo Cortez Pinto, mas acolhe ainda escritores de outra geração cuja influência ainda persiste, como Eugénio de Castro. O mais importante momento da revista é a publicação de um número duplo especial sobre António Nobre, o 5-6 e último. Aí surgem os poemas Anto, de Sá-Carneiro, e «Só», de Alfredo Guisado, e o artigo «Para a Memória de António Nobre», de Pessoa. São textos muito marcantes dos seus autores, sobretudo em relação a Sá-Carneiro, que se revê em António Nobre como se ele fosse uma idealização de si mesmo: «O príncipe das Ilhas transtornadas – / Senhor feudal das Torres de marfim…». Significativo é, também, que no preciso período em que se iniciam as manobras da Vanguarda portuguesa se ofereça uma homenagem a um poeta que é, assim, identificado como importante. Do mesmo modo, a presença de três dos maiores nomes do grupo modernista apontam a possível proximidade entre a sua arte e alguns dos valores da tradição decadentista. Ou, no caso de Pessoa, marca o seu reconhecimento de uma temática central para a sua própria obra, ao defender que poesia e sentimento nacional coincidem em António Nobre, de quem «partem todas as palavras com sentido lusitano».

 

Fernando Cabral Martins