Era irmão de João Miguel Rosa, o padrasto de Fernando Pessoa, que representou no seu casamento, por procuração, com D. Maria Madalena Nogueira Pessoa. Era um homem culto, bem informado sobre as novidades literárias e conhecedor dos autores contemporâneos. General de carreira, intelectual e poeta, teve uma ampla colaboração em jornais e revistas da época. Segundo João Maria Rosa, contraíra, nas colónias, uma doença viral que o deixara doente. Os biógrafos de Pessoa descrevem-no deitado na cama, no andar enorme onde vivia sozinho, pois nunca casara, rodeado de livros e de garrafas. Era anti-clerical e anti-monárquico e estas suas convicções terão impressionado o jovem Poeta. Foi igualmente o seu iniciador na Teosofia e no Espiritismo. Nos diários referentes aos anos de 1906, 1907, 1913 e 1915, o nome de Henrique Rosa surge mencionado por diversas vezes, de uma forma que torna clara a influência que exercia no seu sobrinho por afinidade. Através dele, Pessoa toma contacto com as obras dos decadentes e dos simbolistas franceses e dos pós-românticos portugueses. Foi Rosa que apresentou Camilo Pessanha a Fernando Pessoa, na Pastelaria Suíça, e o Poeta relembra essa ocasião e os poemas que Pessanha lhe recitou numa carta enviada para Macau em 1915. Num texto onde enumera as suas influências, Pessoa refere somente autores de língua inglesa para o período de 1904-1905. Para os anos de 1905 a 1908, no entanto, junta a Edgar Poe (já na poesia), Baudelaire, Rollinat, Antero, Junqueiro (na parte anticlerical), Cesário Verde e José Duro, o nome de Henrique Rosa. A leitura dos diários de 1906, 1907, 1913 e 1915 permite adivinhar a natureza da relação entre tio e sobrinho e a preponderância que aquele homem mais velho, boémio e culto exercia no jovem Poeta. Num registo de 16 de Maio de 1906, Pessoa descreve uma visita a casa de Henrique Rosa, em que este lhe lê uma crítica a Palavras Cínicas de Albino Forjaz de Sampaio, obra que lhe empresta, assim como Evangelho Novo de Silva Passos. Nessa noite, diz Pessoa, ficou acordado a ler o primeiro destes livros. Classifica Rosa de «espírito maravilhoso». Ele é, continua, um pessimista filosófico de grande categoria, com enormes conhecimentos científicos. Noutro local, num texto com data de 21 de Fevereiro, possivelmente de 1913, Pessoa relata a sua dificuldade em adormecer devido a um hipotético comentário que Henrique Rosa casualmente fizera a seu respeito e que Carlos Celestino Corado lhe transmitira. Para ultrapassar a inquietação causada, lê um romance de aventuras de W.W, Jacobs. Pessoa acrescenta: Poucos apontamentos tomei sobre qualquer dos assuntos que ora me prendem (Escritos Autobiográficos, 113). Segundo o registo do dia seguinte, Corado repetiu-lhe o comentário, na Brasileira, e de novo de forma casual. A frase de Rosa já o magoou menos nessa altura. Noutra entrada do mesmo diário, Pessoa refere que não consegue dormir e não consegue ler Emerson, que se limita a folhear. Preocupam-no os 5.000 réis do Rosa. Conclui-se deste registo que Henrique Rosa socorria Pessoa nas suas crises financeiras. No mesmo ano, é a sua casa que se desloca para ver se ele teria a receita dos ouvidos tapados que lá deixara. Não a encontrou, mas: Estivemos conversando. Mais adiante, lê-se que passa a Côrtes-Rodrigues o encargo criado para com o Henrique Rosa e a Tia Anica. O convívio íntimo, depreende-se, continuava. Em Dezembro de 1915, regista no diário a suspeita que algo de mal poderia acontecer quando visitasse o tio. Fundamenta-a numa carta da mãe em que dizia estar muito deprimida. No dia seguinte escreve aliviado: Went to Henrique Rosa and all ran in a most excellent manner (Escritos Autobiográficos, 170). Henrique Rosa foi colaborador de várias revistas, nomeadamente de O Pimpão, onde publicou contos humorísticos sob o pseudónimo de Diabo Azul, de 1902 até pelo menos Março de 1908. Curiosamente, Diabo Azul é o nome de um dos colaboradores imaginários de O Palrador, o jornalinho manuscrito de Pessoa, com data de 1902. Pessoa viria a publicar poemas de Henrique Rosa na revista Athena (1924-25) e planeava publicar a sua poesia na Empresa Íbis.

 

Bibl.: Robert Bréchon, Estranho Estrangeiro, Quetzal Editores, Lisboa, 1996; Pedro da Silveira e Idalina Portugal, «Subsídios para uma biobliografia  de Henrique Rosa». In Rev. BN, 2ª série, III, , 9-12/988, pp.215-226.

 

Ana Maria Freitas