Personalidade literária criada por Pessoa, colaborador dos periódicos O Phosphoro e O Iconoclasta, assume uma militância republicana radical. Os seus escritos em verso (datados de 1908-1910), numa linguagem disfemista, roçando por vezes a obscenidade (que Pessoa-ele-próprio repudiava), mas num registo sempre satírico, apresentam-se como setas demolidoras da podre Monarquia Portuguesa e da Igreja Católica. São estas duas instituições, de facto, o principal alvo das suas sátiras. Assim, por exemplo, a Monarquia surge simbolizada por «um penico sem tampa» vogando num «mar de mijo» e a Igreja Católica como uma «cilada» que Deus e o Diabo prepararam para mortificar o ser humano. A Igreja é mesmo invectivada numa espécie de ladainha negra: «Maldita seja em toda a parte / A Igreja Católica» (Pessoa por Conhecer, II, p.221). Moura Costa não poupa a aliança entre a «estuporada dinastia» dos Bragança, do qual só se salva D. Pedro V, já que Deus «Matou-o novo pois para não destoar» (Pessoa Inédito, p.341), e a Religião. Vejam-se também poemas dedicados a figuras como a arreliadora D. Amélia e o ditador João Franco, que teria na sua campa o epitáfio merecido: «Foi melhorando, desde a vida à morte. / Pois será pó, é podridão, foi trampa.» (Pessoa Inédito, p.343); ou o poema, destinado ao Phosphoro, intitulado «Origem Metafísica do Conde de Samodães» (variante: «Origem Metafísica do Padre Matos»), onde se conta que o citado Conde (Presidente da Associação Católica e director do jornal A Palavra) - ou o citado padre (personagem controversa que a República haveria de obrigar a fugir) - brotou dos «divinos flatos» do «sujo Deus da humanidade suja» (Pessoa por Conhecer, II, p.219). Mas Moura Costa é também um feroz crítico dos representantes canónicos das letras portuguesas, como Gomes Leal, recém-convertido ao catolicismo; Augusto Gil, a quem só faltava «ser poeta», para ser poeta; Fialho de Almeida, acusado até (num poema inédito) de ser um sórdido pederasta. Muitos outros poemas da autoria de Joaquim Moura Costa, por vezes sem assinatura, mas apresentando nitidamente o seu estilo, encontram-se ainda inéditos.

 

Manuela Parreira da Silva