Em 1926, o Jornalista Augusto da Costa realizou para o Jornal do Comércio e das Colónias um inquérito subordinado ao tema “Portugal, Vasto Império”. Fernando Pessoa foi uma das várias personalidades, então, inquiridas. A sua resposta saiu na edição do referido jornal nos dias 28 de Maio e 5 de Junho de 1926. Mais tarde, o entrevistador reproduziu-a no livro que editou, em 1934, e a que deu o mesmo título: Portugal – Vasto Império. Quatro perguntas, todas elas começadas por “Sim ou não”, organizavam o questionário. A primeira indagava se Portugal possuía a vitalidade necessária par manter, no futuro, o lugar de uma grande potência; a segunda, se Portugal colonial podia ser considerado uma grande potência europeia; a terceira, se, sem as suas colónias, Portugal manteria o seu lugar no comércio europeu; e a quarta, se a moral da Nação podia ser levantada por uma intensa propaganda de forma a criar uma mentalidade colectiva capaz de impor uma política de grandeza e, caso a resposta fosse afirmativa, qual seria o caminho a seguir. As repostas de Pessoa foram todas afirmativas, embora à primeira, tivesse tido, logo de início, a necessidade de precisar o sentido da expressão “grande potência” (ou não fosse ele o tal poeta animado pela razão), para concluir que Portugal tinha “as condições orgânicas para ser uma grande potência construtiva ou criadora, um Império”. Esta foi a resposta mais longa, pois o poeta aproveitou a circunstância para tecer uma série de elucubrações sobre o conceito de “influir”, sobre a ideia de “transformar” e sobre os modelos de “potência” que definiu (três: o guerreiro, o económico e o cultural) e as respectivas características. (Obra Poética e em Prosa, III 709). A resposta de Pessoa à segunda pergunta foi bastante parca. Apenas teceu a consideração de que a grandeza de Portugal estava no futuro e não no presente. Facto que não impedia que o tratassem com a consideração devida, por ser a terceira potência colonial. Quanto à terceira pergunta, a sua resposta foi lapidar: Portugal em nada precisava das colónias para o futuro que o esperava, apesar de as considerava uma vantagem. Quanto à última questão, escreveu que “há só uma espécie de propaganda com que se pode levantar o moral de uma nação – a construção ou renovação e a difusão consequente e multímoda de um grande mito nacional.” (Obra Poética e em Prosa, III 710). Imediatamente a seguir, justifica esta sua forma de pensar, acrescentado: “o mundo conduz-se por mentiras; quem quiser despertá-lo ou conduzi-lo terá que mentir-lhe tão delirantemente, e fá-lo-á com tanto mais êxito quanto mais mentir a si mesmo e se compenetrar da verdade da mentira que criou” (ibidem). Para de seguida propor que se renove o mito sebastianista e que com ele se construa a tal mentira-verdade para com ela envolver a nação numa atmosfera de sonho e esperança capaz de a levar ao encontro da grandeza nacional: “a Criação do Mundo Novo, o Quinto Império” (ibidem). Dessa mentira se embriagou o poeta e com ela se arvorou em mestre e guia da pátria, que a todo custo, quis alargar a império: O Quinto Império Cultural e Espiritual.

 

 

BIBL.: Fernando Pessoa, Obra Poética e em Prosa, I, II e III, ed. António Quadros e Dalila Pereira da Costa, Porto, Lello & Irmão, 1986;

 

 

Luísa Medeiros