Manuel António Sengo, amigo de F. Pessoa, ter-lhe-á sido apresentado, segundo Eduardo Freitas da Costa, por Mário Nogueira de Freitas, que com Sengo tinha em vista, por volta de 1916, um negócio de lenhas, para o qual precisariam da «colaboração técnica» do poeta (Costa, 1951, p.76). Dono da Leitaria Alentejana, na Rua Almirante Barroso, 12, Sengo aluga a Pessoa dois quartos na sua casa da Rua Cidade da Horta, 58, 1º dt., onde este vive cerca de um ano. Depois de trespassar o estabelecimento, o alentejano passa a ter um escritório de comissões ao lado da firma F. A. Pessoa, criada em Julho-Agosto de 1917, no mesmo andar da Rua do Ouro, nº 87, facto a que não seria alheia a amizade entre os dois. Outro elo de ligação entre Pessoa e Sengo é, sem dúvida também, a existência na vida doméstica de Pessoa de uma senhora, designada de «pitoresca D. Emília» por Eduardo Freitas da Costa, que informa ter sido ela governanta do poeta e ter uma filha de Manuel António Sengo. Abandonada por ele, D. Emília e a filha (referidas, aliás, numa carta de Pessoa, de 27 de Abril de 1918, endereçada a uma enigmática D. Júlia, talvez ex-inquilina de Sengo) terão encontrado refúgio e apoio em sua casa. A verdade é que, em dois planos de vida, escritos em inglês pelo punho de Pessoa (publicado in Escritos Autobiográficos: pp. 178-182) em 1919, pode ler-se, por exemplo, a sua intenção de rumar a Londres, e de alugar uma casa fora de Lisboa e pôr lá todos os seus pertences, «deixando a Emília a cuidar dela e com a sua vida organizada, sem medos nem preocupações».

 

 

Bibl.: COSTA, Eduardo Freitas da, Fernando Pessoa. Notas a uma Biografia Romanceada, Lisboa, Guimarães, 1951; Fernando Pessoa, Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, ed. de Richard Zenith, Lisboa: Assírio & Alvim, 2003.

 

 

Manuela Parreira da Silva