Alba foi um publicação periódica, redigida por alunos da Faculdade de Direito de Lisboa, que durou apenas três números: Abril, Maio e Junho de 1917. Se a compararmos com a revista mais vanguardista do Modernismo português, também surgida este ano, Portugal Futurista, esta constitui, a todos os níveis, um exemplo do arrière-garde. A começar, o design do seu lettering remete-nos para o tempo medieval, com a letra capital "A" profusamente trabalhada a fundo dourado, ao modo da iluminura, bem como a fonte das restantes letras do título. A nível estético ainda, não existe qualquer outra ilustração da revista, que, salvo a publicidade finais com páginas a cor diferente, apenas se compõe de texto sobre página em branco, preenchida por textos de crónica e textos literários inéditos. 

Se se intitula "revista de novos", com periodicidade mensal - assinalando esse facto na nota a seguir ao índice que pede colaboração 'a todos os novos', é bastante curioso que a revista abra com um texto encomiástico de Júlio Dantas, a nemesis do Modernismo português, que saúda o aparecimento da revista, 'que se apresenta a si própria' como qualquer revista, saudando também a juventude dos 'vinte anos' onde as ideias de constituição de núcleos como este surge. Efectivamente, o 'antelóquio', datado de Março de 1917, fala dos novos 'entre o ruído das vozes políticas e entre o fragor da guerra, vestidos de alva', numa clara alusão poética ao nome da revista. Quem dirige a revista, e que deve ter redigido este prefácio, foi Vasco Camélier, colega de faculdade de Florbela Espanca (bem como de Américo Durão) e que a vai assim dinamizar.  A revista malogrou certamente pela saída, no último número (Junho) de Camélier e de Mário Pereira, seu adjunto e colaborador regular.

De entre a colaboração escrita, é de assinalar a de Reinaldo Ferreira, que ficará conhecido como o Reporter X já nesse ano, com dezanove anos. Aqui assina uma crónica sobre a abertura de uma sucursal lisboeta de uma ourivesaria portuense, onde digressa sobre o valor da jóias e o valor do ser humano: "para as comprar, há quem sacrifique a honra."

 

 

Ricardo Marques