Conímbriga - capa

 

 

Comparando com Nova Phenix renascida (1921), a revista Conímbriga (1923) é uma revista graficamente mais avançada. O nome e a imagem de capa, da responsabilidade de Germano Vieira, remetem-nos claramente para o universo da tradição coimbrã, para um certo Saudosismo do passado mítico, que estará aqui bem patenteado num poema como "Saudade", de Valdemar Lopes, hoje um nome desconhecido. Sentir-se-ão ecos deste grafismo numa interessante revista de Coimbra do ano seguinte, Tríptico  (especialmente o segundo número). 

No editorial, intitulado "Antes...", dois princípios são deixados claros: em primeiro lugar, estamos perante um grupo de jovens, uma revista de juventude, que defende não ter pretensões reformistas ou de vir anunciar "uma nova escola, bussolando os náufragos da arte moderna". E, em segundo lugar, com um claro propósito de dar a conhecer melhor o talento artístico que a cidade de Coimbra produziu.

O texto seguinte, da autoria de A. Augusto Gonçalves, parece uma contradição ontológica do texto do editorial, dizendo à cabeça que "Este título Conímbriga é um programa". Trata-se de um texto aguerrido, atacando a destruição do património cultural edificado da cidade dos estudantes, estimulado pela intensa turistificação. A indignação, porém, de Gonçalves é para com um decreto-lei que faz diminuir a importância estratégica de Coimbra, pondo-a a par de locais em Portugal menos importantes como "as Termas dos Cucos e Unhais da Serra!".

 

De destacar, em toda a revista, o retrato modernista do pensador espanhol Miguel de Unamuno, da autoria de Vázquez Díaz, futuro colaborador de Contemporânea. Este quadro surge aqui como paradigma da excepcionalidade artística de Díaz, uma vez que ele é protagonista de um artigo mais ou menos extenso da autoria de Vitorino Nemésio, que se encontra naquela cidade a terminar o curso de Ciências Histórico-Filosóficas.

 

Esta é, assim, uma revista que não teve mais do que um número, mas que logo no índice anuncia quem serão os próximos colaboradores: Raul Brandão, João Ameal, entre outros. Tendo em conta a diferença das invectivas dos dois textos primeiros da revista, pode-se assumir que a revista não terá conseguido levar a sua avante por inexistência de uma síntese das duas pulsões (reformista e conformista) que comandam todas estas revistas modernistas.

 

Ricardo Marques