Este periódico, que se subintitula "Órgão das normalistas de Lisboa", tem o grande interesse de ter sido fundada e dirigida por Irene Lisboa, com o apoio exclusivamente feminino de Alice Barbosa e Oeiras e Dulce de Sousa Faria (redactoras) bem como da editora Ilda Moreira. As três são colegas estudantes de Irene Lisboa, quase a terminar o seu curso na actual Escola Superior de Educação (antiga Escola Normal de Lisboa) funda aos 21 anos, começando no primeiro número por ser  «quinzenário literário, científico e artístico» e, depois, «quinzenário pedagógico, literário e científico», reflectindo essa palavra - pedagógico - o intuito real e primordial dessa publicação. Logo no segundo número, o frontispício tem um artigo (o primeiro de dois) de António Luís Filipe, aluno dessa mesma escola, onde o tema é simbolicamente "A Escola".

Educação Feminina é quase um jornal, pela dimensão e pela disposição dos textos na página, impresso na Tipografia Nacional, de Lisboa. De salientar ainda a publicidade na revista, que aponta em várias direcções progressistas na emancipação da mulher, nomeadamente a que diz respeito ao semanário "Terra Livre", que se diz ser no texto publicitário o 'único jornal que pugna pela emancipação total da mulher".

De facto, é Irene Lisboa que assina quase todos os textos inéditos desta publicação (quem mais colabora são as redactores e editora, bem como as colegas Lucinda Dias e Virgínia Faria Gersão), que chegou a ter 7 números até ter sido censurada definitivamente ao fim de seis meses pelo 'progressismo', já aludido, das suas ideias (proibido pelo Conselho Escolar da Escola Normal). Neste periódico vemos assim reflectido a irreverência e o jovem pensamento da autora, que também parece utilizar alguns pseudónimos na parte humorística (Flip, Oricema, Érasan). Como exemplo da mordicidade do seu pensamento denunciador e, talvez, das razões de fecho prematuro da sua publicação, está o texto que encabeça o número 5 (9 de Junho de 1913), um dos números finais, onde se queixa da praga de ratos dentro do edifício da Escola: "Pode objectar-me a minha boa amiga que tanto rato neste edifício pode ser um perigoso foco infeccioso ao que lhe volvo que muitos mais focos de infecção ainda existem, mas que a raça portuguesa é tão forte que nenhuma destas mocidades jamais sofreu aqui a ofensa de um ataque de males epidérmicos, apesar de todas ou quase todas apresentarem esse ar abatido e linfático de anémicas..."

Uma nota final para o cabeçalho artístico da publicação: tripartido, na parte esquerda vê-se uma menina a ler, apontando claramente para o título (no centro), no livro que segura prefigurando-se involuntariamente uma cruz, e algumas notas bucólicas (árvores e campo) do lado esquerdo, numa linha estética muito arte nova, e portanto, pouco modernista.

 

Ricardo Marques