"Camilliana" pretende ser uma revista-homenagem ao malogrado escritor Camilo Castelo Branco. Era prática comum, neste período, a constituição de revistas com vista a homenagear uma figura pública de grande relevo, como era o caso do escritor nortenho. Um retrato de Camilo, vinte anos antes do suicídio, de 1870, é ainda impresso como ilustração por entre as páginas da introdução.

Sabemos, logo na página inicial, que esta comemoração era subsidiária do jornal O tripeiro, surgido na cidade invicta em 1908.

Assim, nesta publicação são diversos os tipos de textos incluídos em sua homenagem: desde correspondência a poesia, passando por um lado internacionalista da figura literária de Camilo. Aqui, são notórios "Alguns apontamentos" sobre uma tradução italiana de Amor de Perdição, artigo assinado por Luis Ferreira de Lima, bem notícias de uma festa comemorativa à memória do autor, no Brasil, organizada pelo Grémio Republicano Português no Rio de Janeiro.

No domínio da poesia, Henrique Marques digressa sobre 'um soneto de camilo', uma faceta menos conhecida do escritor, sendo ainda transcrito outro soneto do autor numa parte inicial da revista, intitulado "O teu retrato". 

O número, de resto, abre com uma crónica dos últimos dias do autor de A Queda dum Anjo. Uma crónica algo romantizada e escrita com alguns intertextos revelados das leituras da época (Heine, Wolff, etc), mas tem a valiosa intenção de ser escrito, por Mello Freitas, poucas semanas depois do suicídio do escritor. Numa crónica mais à frente, fala-se ainda dos cinco últimos anos de vida, com uma alusão à sua consagração aristocrática por D. Luís I, em 1885, ao outorgar-lhe o título vitalício de Visconde de Correia Botelho. A crónica, escrita ainda em vida dele, defende claramente a figura de Camilo, ao dizer que deveriam deixá-lo escrever dois ou três livros para ver como o título nada influenciaria o seu talento literário.

Apesar do entusiasmo desta invectiva camiliana e do ensejo em continuar para outros números, o projecto parece ter gorado porque não teve sequência - o que também era comum - e ficou-se por um número único.

 

Ricardo Marques